Breno Barros (*)
Atecnologia blockchain está em um processo inicial de validação de alguns conceitos. Ainda que esteja neste grau de maturidade em formação, o blockchain pode resolver alguns tipos de situações no campo dos negócios. É importante ter, pelo menos, três partes envolvidas neste processo, ou seja, a empresa, o cliente e uma delas vai ser externa. Neste ciclo, a desconfiança é um grande aliado, afinal, tudo deve ser checado e rechecado para evitar dores de cabeça futuras.
Um caso prático, por exemplo, pode ser visto na reforma trabalhista no termo de quitação, que vai exigir que empresas recolham anualmente uma certidão positiva de todos os colaboradores todo ano. Então, por ter muita papelada, e por ser uma relação que vai ser auditada pelo Ministério do Trabalho, há muita desconfiança. Porém, como os dados são invioláveis, o blockchain pode atestar que são confiáveis.
Outra aplicação comum é na indústria, na área de suprimentos como um todo, com a rastreabilidade de carnes e grãos. Atualmente, já vemos um trabalho sendo realizado com provas o conceito. Hoje, a questão tecnológica é simples de implementar, tem um custo das plataformas, que ainda está nessa fase de validação, e poderemos ver o amadurecimento disso a curto prazo.
Enxergo um grande potencial no blockchain. Olhando para o agrobusiness, que responde por uma boa parte do PIB, é onde eu acredito que há uma oportunidade de garantia para que a produção e suprimento, como carnes e grãos, tenham qualidade. Ainda mais em uma era de conscientização, em que a população quer mais informações, quer ter garantia de qualidade, ainda mais com maior adoção de alimentos orgânicos. Outro setor com espaço para uso da nova tecnologia é a indústria têxtil, que tem muitas questões complexas envolvidas.
Ali, o blockchain pode ser uma aplicação importante, obviamente combinado com outras tecnologias como reconhecimento de imagens, como o de verificar se em uma fábrica os trabalhadores não operam em regime de escravidão. Tudo isso pode ser alimentado no blockchain para trazer segurança. Vemos que o Brasil tem um potencial muito bom nessa indústria de produção. O de peças também, onde o blockchain pode ajudar o mercado de reciclagem de produtos.
Creio que os grandes projetos, na prática, vão começar a ganhar escala em 2021 e teremos um ano de muitas provas de conceito. As plataformas estão prontas. Basta identificar novas possibilidades e oportunidades de negócios para a utilização efetiva da tecnologia. Há, sim, um futuro promissor para o mercado de criptoativos se considerarmos a questão da confiança, mas, na minha opinião, as criptomoedas precisam ser desmistificadas, pois elas são moedas, e não um investimento.
Você não investe em moeda, moeda é moeda. Você investe em investimentos, em um portifólio, entre outras ações. Estamos caminhando para atingir uma maior aderência. É possível que no ano que vem, quando o Banco Central vai permitir que o brasileiro tenha multimoedas, como é no Uruguai. Aí, então, teremos em conta dólar, real, euro e outros tipos de criptomoedas que possam entrar ali para acelerar o processo, por diversas questões. Isso pode desmistificar um pouco as criptomoedas e acelerar a adoção no Brasil e fora.
Todo o mercado, de alguma forma, está olhando para encontrar o business. Os bancos não enxergam as criptomoedas como investimento, dentro de um portfólio que faça sentido figurar ali dentro das instituições, mas é fundamental formar uma rede. Mas uma moeda com bitcoin, que hoje já é aceita por alguns lojistas varejo, qual é o benefício real disso para o cidadão? Entendo que ainda há uma quebra de mudança de mindset, de que as criptomoedas são confiáveis e da real aplicabilidade delas.
O custo para você usar bitcoin para tomar um café, por exemplo, ainda não se paga. Essa evolução precisa acontecer para viabilizar o seu uso de uma forma mais cotidiana. Os bancos estão tentando resolver e trazer isso para o dia a dia das pessoas. As criptomoedas ainda não permitem isso.
(*) – É diretor global de Inovação e Negócios Digitais da Stefanini.