Leo Monte (*)
Atualmente, instituições financeiras que ousam ser diferentes, se propõem a desburocratizar processos e oferecem facilidades tecnológicas aos seus clientes, ganham relevância entre as novas gerações. De acordo com uma pesquisa da CB Insights, 71% dos millennials preferem “arrancar um dente” do que “ter que lidar com bancos extremamente burocráticos”.
O estudo aponta, ainda, que mais da metade dos usuários de smartphones utilizam pelo menos um banco digital e quase um quinto usam aplicativos de controle de gastos. Além disso, o constante aumento dos custos de vida tem pressionado os millennials a serem mais econômicos e prudentes com o dinheiro.
Estes são só alguns dos infinitos indicadores de mercado que estão fazendo com que empresas tradicionais, bigtechs e fintechs estejam de olho – e, os mais espertos, já investindo e desenvolvendo – no próximo passo do setor financeiro: o banco exponencial. Esta nova categoria bancária promete mudar, nos próximos cinco anos, a forma como o segmento funciona. Para entender o que é o banco exponencial, é preciso compreender primeiro o que já existe nos bancos hoje e também a proposta do banco aberto (open banking), ambos predecessores desse novo sistema.
Muito do banco aberto é derivado de tecnologias já aplicadas nos sistemas dos bancos tradicionais, como a automação de atividades (consultas a sites internos e externos, identificação de documentos, check-list das atividades manuais da formalização ou até mesmo um simples envio de e-mails); robotização (presente nas centrais de atendimento, com robôs e chatbots nos caixas eletrônicos, SACs e aplicativos); mobile banking (presente nos dispositivos móveis para acessar a conta-corrente, serviços e produtos); automação de atividades manuais (ferramentas que reconhecem letras e números em um arquivo impresso e transforma os dados em um documento digital).
O banco aberto surge, então, como uma alternativa mais avançada do banco tradicional e um grande catalisador dos resultados estratégicos que as instituições bancárias perseguem há um longo tempo: aplicação de experiências personalizada de clientes, dicas financeiras customizadas, análise de bancos de dados para a promoção de insights de negócios mais assertivos, constante crescimento de eficiência operacional e rápida atualização de sistemas e processos quando ocorrem mudanças regulatórias.
E como ele faz isso? Tendo como princípio que o cliente, e não determinada instituição, seja dono dos seus dados financeiros. O sistema permite que outras empresas e serviços acessem os dados dos consumidores — com sua autorização explícita, é claro. Na prática, para o consumidor final, o banco aberto permitiria que as pessoas movimentassem suas contas a partir de diferentes plataformas e não só pelo aplicativo ou site do banco.
Isso permitiria que as instituições financeiras passem a se concentrar mais em suas operações principais e possibilitaria que outras empresas tenham acesso às suas interfaces e desenvolvam novos produtos a partir disso, além de criar uma estratégia focada no tailoring de cada cliente individualmente. Isso tudo, claro, viabilizado por tecnologias exponenciais, como inteligência artificial, APIs, realidade aumentada, computação visual e internet das coisas.
Graças ao cruzamento de diversas tecnologias emergentes e ao avanço da computação quântica, o banco exponencial se apresenta como uma evolução natural da digitalização, que está cada vez mais rápida no setor de serviços financeiros e é impulsionada pelo crescimento exponencial da tecnologia no último meio século, disponíveis para processamentos em velocidades cada vez maiores. Essa é uma arena na qual os bancos podem se beneficiar — fornecendo produtos e serviços mais personalizados para clientes e prospects no momento mais apropriado, com o menor intervalo de tempo entre o conceito e a disponibilidade.
O banco exponencial contempla quatro pilares: banco “aumentado”, que amplia a experiência do cliente em todos os canais mobile e web, combinando todas as tecnologias exponenciais citadas anteriormente; banco aberto, fazendo com que essas ferramentas não só se ajustem automaticamente com atualizações regulatórias, mas também explorem novos modelos de finanças conectadas à outros mercados a partir de serviços financeiros distribuídos e abertos.
O banco cognitivo utiliza IA para trazer dados alternativos para construir interações inteligentes com os clientes, acelerar processos ou auxiliar em tomadas de decisão mais assertivas; automação bancária, que utiliza automação inteligente de processos robóticos para aumentar a eficiência operacional dos produtos e processos já existentes nas instituições. Bits and bytes a parte, o que é importante destacar no contexto do banco exponencial é que seu foco é totalmente voltado ao cliente.
Seu conceito é baseado na famigerada experiência do consumidor e na melhora de relação que instituições bancárias podem obter por meio desse novo sistema. Tem como objetivo utilizar os gigantescos bancos de dados para criar uma nova gama de serviços financeiros e democratizá-los, por meio da tecnologia, a milhões de pessoas desbancarizadas — e tudo isso de maneira ágil, flexível e transparente.
E é isso que, para mim, é o banco exponencial. Uma evolução natural da transformação digital que só pode ter sucesso se for guiada por uma visão clara e mudanças de mindsets. Não podemos esquecer também da base tecnológica é importante para isso aconteça (Core Banking) Essa combinação de fatores e tecnologias que determinará quem terá sucesso no setor financeiro do futuro.
(*) – É CMO da Sinqia e Chief Innovation Officer do Torq, hub de inovação da empresa (www.sinqia.com.br).