A pandemia está completando um ano. Nesses doze meses, a vida de praticamente todas as pessoas ao redor do planeta mudou completamente, mas foi na lógica de trabalho que houve uma das rupturas mais radicais causadas pela Covid-19. Grande parte trocou a rotina no escritório pela do home office, o que transformou o dia a dia. Pais passaram a dividir seu tempo em casa com a escola dos filhos e tarefas domésticas.
O happy hour acabou, a conversa com os colegas de trabalho nunca mais teve a mesma dinâmica e até os rituais mais simples de ir e vir, das compras no supermercado ao passeio no parque, foram cortadas. É claro que todas essas mudanças afetaram as nossas emoções e saúde mental. Mas, afinal, o que estamos sentindo? Como podemos chamar esses sentimentos?
De acordo com pesquisa realizada pela MindMiners, – empresa de tecnologia especializada em pesquisa digital – ansiedade (46%) e preocupação (56%) foram os sentimentos mais relatados pelos brasileiros durante o período. São “emoções genéricas” que, segundo o próprio estudo, são usadas “quando queremos descrever situações de alta tensão, mas sem tanta consciência emocional e sem saber exatamente o que sentimos”, descreve a pesquisa.
Segundo Natasha de Caiado Castro, especialista em inteligência de mercado e marketing de experiências e CEO da Wish International, essas novas emoções, quando não nomeadas, atrapalham as nossas relações em geral, inclusive profissionais. Para ela, é esse desconhecimento que tem causado descompasso na comunicação das organizações com seus colaboradores, levando a problemas no ambiente de trabalho, desde atritos entre pessoas até entrega de resultados.
“Mas por que é tão importante assim saber o que se passa com os nossos sentimentos e, no caso de empresas, com dos que trabalham com a gente? Pois é a partir da identificação dessas questões que conseguimos atacar suas causas e consequências e, assim, encontrar ferramentas para resolver o que está atrapalhando. Ou seja, temos que dar nome a elas: por exemplo, a angústia muda a respiração, pode causar falta de ar, fazer com que a pessoa chore sem motivo específico.
Já o medo é aquilo que tira sua vontade de sair da cama de manhã, aquela coisa de disparar o coração quando toca o telefone, de encontrar desculpas para não sair de casa. A solidão faz o passado ficar mais bonito que o futuro, abala a auto estima a ponto das pessoas ficarem se questionando em relação às próprias decisões”, explica.
O trabalhador precisa ficar atento aos sinais do corpo físico. Insônia, dificuldade de se concentrar, distúrbios intestinais e mudanças de humor são alertas de que algo pode estar incomodando. No campo profissional, problemas para entregar resultados e prazos, que antes eram cumpridos sem dificuldade, também são pontos em que os líderes devem ficar de olho. Fernando Dias, consultor de RH e especialista em planejamento de carreira, lista algumas das ações que podem ajudar a identificar as emoções do ambiente corporativo:
“Perceber a fisionomia do seu colaborador nas reuniões, observar se há uma falta de atenção geral, com muitos desencontros e dúvidas que antes não existiam, ou eram incomuns. Essa foi uma mudança que atingiu a todos e estar atento à saúde mental do seu funcionário é importante: converse com ele, pergunte como está a adaptação e tenha flexibilidade, desde interrupções por conta de problemas domésticos até mudanças de horário”, explica.
É só a partir da identificação de como está esse ambiente e essas pessoas que podemos partir para um plano de ação, reforça Natasha. “E aí, o céu é o limite, existem muitos recursos para motivar e contornar. No entanto, sem o diagnóstico correto, acabamos por dar o remédio errado. Uma boa forma de entender onde está a sua sensação ou, no caso de líderes, a sensação de seu funcionário, é através da teoria da Pirâmide de Maslow”, afirma Natasha.
O conceito citado pela especialista descreve uma “hierarquia de sensações”, desde as mais básicas, que são a base da pirâmide e estão ligadas apenas à sobrevivência, até as mais elaboradas, no topo da pirâmide, ligadas a satisfação pessoal e profissional. Eles são: auto-realização, auto-estima, relações sociais, relações de segurança e necessidades fisiológicas:
“Ou seja: se você vê o seu funcionário, ou se vê, em uma das camadas mais básicas, já entende o que está acontecendo e o que está faltando para, digamos, subir uns degraus. Se você tem medo, não tem segurança profissional, por exemplo, será difícil se motivar, ou motivar seus funcionários, para além do básico. Se você está se sentindo solitário, não consegue socializar, talvez essa seja a razão para a ansiedade
Se você não tem segurança profissional, por exemplo, será difícil se motivar, ou motivar seus funcionários, para além do básico. Se você está abaixo da parte da socialização, talvez essa seja a razão para a ansiedade e daí podemos pensar em soluções: talvez tentar encontrar alguém ao vivo, mas respeitando as medidas de segurança? Voltar a trabalhar presencialmente apenas uma vez por semana?”, exemplifica a especialista.
A escritora Tonia Casarin, autora do livro ‘Tenho Monstros na Barriga’ que ajuda crianças e pais a identificarem e nomearem as emoções, afirma que o próximo passo é perceber também qual a situação que causa o desconforto e entender que, em geral, “refletir sobre o que você pode controlar versus o que você não pode controlar pode te ajudar a diminuir a ansiedade”:
“O medo costuma ser uma emoção que surge quando percebemos uma ameaça. Se pergunte qual ameaça é essa. Faz sentido sentir medo? O que lhe causa medo? Quando ele começa? Esses sentimentos podem surgir até mesmo após ler ou ver notícias, por exemplo, sobre casos de Covid. O sentimento de autoestima baixa pode estar relacionado ao tempo maior nas redes sociais. Há pequenas ações que, quando percebemos o que estamos sentindo exatamente, conseguimos associar ao causador, e aí, buscar estratégias para aliviar essas sensações”, comenta. – Fonte:
(www.digitaltrix.com.br).