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A NRF 2024 acabou, e agora?

em Destaques
sexta-feira, 09 de fevereiro de 2024

Fernando Moulin (*)

Mais uma vez, tive o privilégio de fazer parte do seleto grupo de executivos brasileiros que participou da NRF 2024 – o maior evento de varejo, da maior economia do planeta. Foi o ano em que mais vi diversas pessoas postando, comentando e publicando artigos e materiais em tempo real sobre as diversas novidades e palestras desta edição do centenário evento.

Houve uma profusão de conteúdo interessante compartilhado com quem quisesse se informar a respeito, graças ao poder das redes e de veículos de comunicação prestigiosos que ajudaram muito quem não pôde estar presente (ou mesmo quem estava lá, como eu) a entender ainda melhor as principais novidades. Confesso que voltei contente de New York.

Esta edição realmente foi mais prática e pragmática que as últimas; os estandes dos expositores já estavam com algumas tecnologias demonstradas em anos anteriores aplicadas em estudos de caso mais concretos e tangíveis; as palestras, em geral, foram objetivas e trouxeram insights úteis.

Alguns temas foram presença recorrente ao longo de todos os dias: inteligência artificial; integração omnichannel de experiências físicas com digitais, rumo ao unified commerce; retail media e suas infinitas aplicações; desafios da liderança; loyalty e comunidade de fãs engajados; sustentabilidade e o papel das marcas nessa questão; economia circular e recommerce. O mais importante foi observar o quão rapidamente as pessoas e seu padrão de consumo, marcadamente das novas gerações, estão mudando.

E isso está sendo impulsionado fortemente pelas novas tecnologias e redes sociais. Nada disso é novo, mas começa a se desenhar um cenário para varejistas e organizações em geral que demonstra a iminente necessidade de estar preparado para competir em escala global com empresas empoderadas por algoritmos poderosos e uma base de clientes cada vez mais leal, porém altamente exigente, imediatista e ávida por novidades e experiências movidas por dopamina gamificada.

A dúvida que fica é: estaremos preparados? Ao final de todo evento que frequento, costumo sondar colegas de mercado sobre o que acharam, se pretendem aplicar as soluções e conceitos vistos em seus negócios etc. Na NRF, fiz o mesmo processo. A maioria, apesar de reconhecer (sabiamente) que não é um evento para buscar as últimas inovações, mas, sim, para outros propósitos (networking, aplicações concretas, observar cases de mercado, visitar lojas-conceito…), estava bastante desejosa de tentar incorporar em suas empresas parte das novidades vistas na feira.

O problema é que o dia a dia é cruel e as agendas de curtíssimo prazo, em uma economia ainda estrangulada e com consumidores absolutamente frágeis em seu poder de consumo, costumam se impor assim que aterrissamos no Brasil. Quantas reuniões executivas nos próximos dias terão como pauta transformações no planejamento de 2024 dos líderes de marketing e vendas, por exemplo, com base nos insumos e aprendizados da NRF? A resposta, provavelmente, será nenhuma.

Inteligência artificial foi um tema onipresente, e que já passou da fase do assombro para o da corrida pela liderança perante a concorrência. Pois bem: quantas empresas, neste ano, estão investindo de forma correta e desenvolvendo as competências adequadas para terem estratégias e arquiteturas de dados preparadas para, de fato, potencializar em escala o uso de soluções baseadas em IA generativa?

Ou estão com suas operações logísticas 100% integradas e com vitrines e disponibilidade de produtos sem rupturas ou falhas entre suas lojas digitais e físicas? Ou ainda que têm estratégias de first-party data para o fim dos cookies de terceiros, iminente e já em início de teste pelas plataformas digitais? Poderia listar diversos exemplos como os acima, de dores de negócios estruturais que estão com sua solução postergada, mas que, sem uma real saída, impedirão um salto exponencial na captura de valor a partir dos principais conceitos e transformações amplamente discutidos na NRF.

Por isso, desafio você, caro leitor, a se fazer essa mesma provocação positiva – e a tentar usar os múltiplos aprendizados e novidades compartilhadas nessa NRF de forma efetivamente estruturada e processualizada em prol da transformação do seu negócio. Sob pena da irrelevância perante o cliente e/ou mercado em um futuro bastante próximo.

Conteúdo é o que não falta – tampouco o exemplo de tantas outras NRFs anteriores, em que vi diversos líderes entusiasmados ou impactados com as possibilidades, mas que se “afogaram” nas agruras das agendas de curto prazo de suas organizações. A hora é agora – e cabe a você o desafio de liderar essa transformação iminente com real foco, impacto e muita coragem. Boa sorte nessa transformadora e certamente muito produtiva jornada!

(*) – Graduado em Engenharia Química pela Unicamp, com MBA Executivo Internacional pela FIA-USP e cursos de marketing em diversas instituições internacionais, é partner da Sponsorb, empresa boutique de business performance (www.fernandomoulin.com.br).