Shirley Fernandes (*)
Na vida existem dois tipos de pessoas. Aquela que fala pouco, mas é organizada, planejada e executa as suas ideias. A segunda também planeja, tem ótimas ideias, é eloquente, influente, se comunica ativamente. No entanto, pode deixar a desejar na execução e o resultado não aparece. E no contexto das organizações, das necessidades corporativas contemporâneas qual o tipo de pessoa que é mais visada? Ou melhor, qual é o tipo de pessoa que você é?
A autorresponsabilidade é uma habilidade divisora entre essas duas características. Essa questão está associada à capacidade de responsabilizarmos a nós mesmos por tudo aquilo que acontece em nossas vidas. Não cabe ao outro a responsabilidade por aquilo que somente nós podemos e devemos fazer. Quem cultiva essa habilidade compreende que prós e contras do que acontece é de sua responsabilidade. E quando visualizamos o papel da autorresponsabilidade no ambiente de trabalho, essa habilidade é ainda mais valorizada e requisitada.
John Doerr, um investidor norte-americano e capitalista de risco da Kleiner Perkins, em Menlo Park, Califórnia, que tem negócios ligados ao Vale do Silício nos apresenta a seguinte frase: “Ideias são fáceis. Execução é tudo!”. O que isso quer dizer? Não adianta ter bons objetivos se não há entrega efetiva. Para isso, é preciso atitude, é preciso organização, e, acima de tudo, é necessário ter autorresponsabilidade.
A pessoa autorresponsável tem o senso de entender onde ela está, o que foi proposto e como ela deve agir, traçar e fazer as suas ações, a sua execução. A autorresponsabilidade impulsiona de forma acelerada a tirarmos as ideias do papel e executar efetivamente. Esta habilidade não pode ser vista no currículo, mas é uma das mais procuradas e relevantes soft skills que sustentam um profissional de alta performance e destaque. Você nunca achará alguém bem-sucedido e que gere impacto positivo nas suas ações, que não tenha esta habilidade muito bem trabalhada.
A autorresponsabilidade é um poder, é uma força que só depende de você, da sua consciência, pois é ela que nos faz ter a compreensão sobre tudo o que acontece em nossas vidas traz as suas consequências, positivas e/ou negativas. Existem algumas caraterísticas presentes nas pessoas que não têm a autorresponsabilidade desenvolvida, entretanto tem uma em especial que eu gostaria de destacar e que permeia demais o cotidiano do contexto corporativo: a justificativa.
Você já teve a sensação de sair de uma reunião, ou ler um e-mail, onde a pessoa escreve um lindo texto contendo apenas justificativas? Ela argumenta as suas ações não concluídas, os seus atrasos, os seus planos não desenvolvidos. Ou seja, tudo se torna justificável. Essas pessoas são excelentes em produzir relatórios e consolidar informações para justificar o porquê aquilo que deveria ser executado não foi feito. Sabe por quê?
Porque a justificativa minimiza a culpa de saber que você não foi responsável por não entregar a tarefa proposta. Nessa cadeia de justificativa sempre tem “alguém que não fez”, “uma máquina que deu problema” ou “um problema que surgiu”.
Assumir um erro não é fraqueza, é entender que o acúmulo de falhas fará você ter um nível alto de acertos. Errar faz parte do sucesso! Mas é preciso ter coragem e humildade para assumir um erro.
“Eu errei mais de 9 mil arremessos na minha carreira. Perdi quase 300 jogos. Em 26 oportunidades confiaram em mim para fazer o arremesso da vitória e eu errei. Eu falhei muitas e muitas vezes na minha vida. E é por isso que tenho sucesso.”, frase de Michael Jordan, o maior jogador de basquete do mundo, para te inspirar.
Por isso, falar de autorresponsabilidade é olhar os erros como possibilidades e não entrar na esfera do justificável. E pior ainda é quando a justificativa está relacionada com a falta de ação do outro.
E você que, às vezes, pode estar no meio desta cadência de ações, pode sofrer o rescaldo de tudo isso. Faz parte do desastre e queda de performance, da falta de autorresponsabilidade dentro de um contexto, onde várias pessoas agem. E, depois, será bem provável que na apresentação dos resultados haverá uma bela e bem contada história, com uma justificativa para aquela ação não concluída.
A justificativa tem roubado o tempo das pessoas impactando na produtividade e, consequentemente, nos resultados. Por isso, eu uma reflexão com o objetivo de olharmos onde podemos subir ainda mais a nossa barra, encarando nossos erros não com culpa, mas como oportunidades. A nossa velocidade somente importa se estivermos no caminho certo, e a autorresponsabilidade nos coloca na rota certa em agir com disciplina, focando em entregar o nosso melhor e não apenas o nosso possível.
Assim, eu deixo seis lições da autorresponsabilidade, que me trouxeram boas reflexões em “O Poder da Ação”, de autoria de Paulo Vieira, professor e especialista em performance:
1 – Se for criticar as pessoas, cale-se.
2 – Se for reclamar das circunstâncias, dê sugestões.
3 – Se for buscar culpados, busque a solução.
4 – Se for para se fazer de vítima, faça-se de vencedor.
5 – Se for justificar os seus erros, aprenda com eles.
6 – Se for julgar alguém, julgue a ação desta pessoa.
Por isso, lembre-se de cada uma dessas lições e reflita: quanto mais pessoas falando o necessário e agindo rumo ao extraordinário, mais resultados impactarão no crescimento de todos. Afinal, que tipo de pessoa você quer ser: a que fala de menos e faz mais ou a que fala demais e faz de menos?
(*) – É sócia-diretora Comercial e de Marketing da N1 IT Stefanini.