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A corrida não é mais por petróleo, é por dados

em Destaques
terça-feira, 27 de setembro de 2022

Paulo Castello (*)

Sempre digo que o futuro do trabalho é resumido na nova gestão de pessoas baseada em dados. Se antes, a gestão avaliava o desempenho do time no coletivo, e em intervalos longos de seis a 12 meses, agora, não já não faz o menor sentido. A mentalidade dos colaboradores mudou, o nível de exigência dos profissionais aumentou e o mercado abriu novas oportunidades globais.

Como tudo em nossa economia atual, a velocidade de resposta vai definir quem vai continuar entregando resultados consistentes ou quem vai ficar para trás. Empresas precisam se adaptar rápido para os novos desafios do trabalho do futuro ou assistirá os melhores talentos indo embora e, consequentemente, seus resultados reduzindo.

A disputa por talentos não é mais local, sua empresa não é mais a última bolacha/biscoito do pacote, agora qualquer um pode trabalhar de casa para uma empresa na Suíça, Singapura ou no Canadá, por exemplo, com custo de vida de uma cidade do interior, ganhando cinco vezes mais o que pagariam pelo mesmo trabalho aqui no Brasil.

Não vai ser fácil manter esses profissionais e, sem os talentos, você não evolui organizacionalmente na velocidade que o mercado está demandando. O jogo é de velocidade e, no jogo de velocidade, dados em tempo real têm sido a estratégia dos vencedores. “Data is the new oil”. A corrida não é mais por ouro ou petróleo, a corrida agora é por dados para entender, reagir rápido ou até mesmo antecipar.

Existem algumas estratégias que estão sendo adotadas para ampliar as taxas de atratividade, mas principalmente, de retenção de talentos. Dentre elas, o destaque é o uso de people analytics usando dados, em tempo real, para construir estratégias mais precisas e rápidas (menos feeling/intuição, mais fatos) e até mesmo nova políticas que visam a personalização e individualização da pessoa.

Faz parte da nova gestão entender os diversos perfis de trabalho, performance/produtividade, habilidades digitais e sociais, carga de trabalho e até mesmo níveis de bem-estar. É possível por meio das tecnologias disruptivas – criadas inicialmente para analisar tempos e movimentos de processos e tarefas para melhoria e automação – , também chamadas de process mining e task mining.

Com dados, a liderança pode implementar ações de proteção à saúde mental e se se antecipar a estes problemas, que podem ser corrigidos e remediáveis – lembrando, claro, que essa área compete aos profissionais de saúde -, como também afastar possíveis riscos trabalhistas.

Sem dados, isso tudo não é possível. Um colaborador que sai e entra em várias reuniões, de forma sucessiva e sem pausas, e assim repete o padrão todos os dias, tem sua qualidade de vida e mental muito afetada, impactando na produtividade. O mesmo acontece com aquele profissional que só dedica tempo em tarefas mecânicas e repetitivas.

Recentemente, saiu uma pesquisa do Gartner, realizada com mais de 1.800 candidatos em junho, mostrando que, um dos motivos para procurar um novo cargo/emprego está associado à desvalorização que sente do emprego atual, além de se sentirem esgotados em sua função atual.

. Data Driven Management – Com os algoritmos, é possível conhecer melhor os colaboradores e entender seus anseios e vontades. Exemplo, com dados, a liderança consegue saber o gosto pessoal do seu time direto.

Se naquele momento, tal pessoa gostaria de fazer aulas de violão ou gastronomia, melhorar algum idioma e, a partir desse insight que os dados geram, pensar em estratégias de parcerias de desconto com escolas, por exemplo.

A tecnologia está aí para dar mais previsibilidade do futuro. Repito, hoje, com nova configuração de trabalho, não é mais possível fazer gestão de pessoas igual para todo mundo, todos pensados da mesma forma. Profissionais trazem consigo dificuldades e necessidades diferentes, angústias. Uns têm filhos e gostariam de passar mais tempo com eles, ou, simplesmente, não tem com quem deixar.

Encaixar todas as pessoas em uma gestão padronizada, uniforme, deixará de desistir. É necessário mudar a forma cartesiana de gerenciar pessoas pelo próprio bem da sociedade.

(*) – É CEO e fundador da Fhinck, assistente virtual que identifica oportunidades de melhoria na jornada de trabalho (https://fhinck.com/).