Você se comunica em branco e preto?
* J. B. Oliveira
Observando a linguagem desbotada e sem vigor usada por muitas pessoas na comunicação atual, pareceu-me oportuno reproduzir um capítulo de meu livro “Boas Dicas para Boas Falas” (JBO Editora, São Paulo, 5ª edição, 2014, a partir da página 98). Faço-o, abaixo, textualmente.
“ COLORIDO
Um discurso NUNCA pode ser em branco e preto!
Mesmo que se trate de um pronunciamento fúnebre, de um panegírico.
O colorido é dado pelas figuras de estilo, que cabem em qualquer situação – de alegria ou de pesar, de acordo com seu conteúdo. Essa circunstância faz lembrar uma poesia trovadoresca, que diz:
‘Até nas flores se veem
As diferenças da sorte:
Umas alegram a vida,
Outras enfeitam a morte!’
Entre os muitos tipos de figuras de estilo ou de linguagem, destacam-se as alegorias – como metáforas, parábolas, fábulas – que, de forma figurada, transmitem ensinamentos, lições, preceitos morais, princípios éticos etc.
Seu efeito prático é atenuar a aridez dos discursos, dando-lhes leveza e graça. São como janelas em um edifício. Sem elas, o prédio fica soturno, sombrio, sem respiração. Elas, entretanto, lhe dão iluminação e ventilação, tornando o ambiente mais suave, claro e agradável.
Jesus falava por parábolas, e tão bem as narrou, que continuam válidas hoje, transcorridos mais de dois mil anos. As parábolas do Bom Samaritano, do Filho Pródigo, do Grão de Mostarda, da Ceifas e dos Ceifeiros, dos Trabalhadores da Última Hora e tantas outras estão presentes tanto em sermões como em palestras, aulas e discursos ao redor do mundo!
Fábulas constituem outro tipo de alegoria. A diferença básica em relação às parábolas, é que aquelas têm como personagens seres humanos, enquanto as fábulas se referem a animais. O princípio norteador, porém, é o mesmo: histórias em cujas entrelinhas regras de conduta moral são ensinadas. Esopo (século VI antes de Cristo) e La Fontaine (1621 – 1695) foram grandes fabulistas e suas alegorias foram a sensação de milhões de pessoas que as ouviram nas escolas ou mesmo em ambientes literários.
A Cigarra e a Formiga; o Lobo e o Cordeiro; a Raposa e as Uvas; o Sapo e o Vagalume; o Incêndio na Floresta são alguns dos títulos de suas fábulas.
Há, ainda, as chamadas fábulas modernas, também válidas como forma de arejar discursos, palestras, conferências, aulas e até conversas.
Bons oradores têm sempre ilustrações para auxiliá-los na tarefa de tornar agradável sua fala.
Para demonstrar que cabem alegorias mesmo em mensagens muito formais, técnicas, sisudas por natureza, cabe narrar um caso relativamente atual.
O general João Baptista de Oliveira Figueiredo era presidente da República, e Guilherme Afif Domingos cumpria seu primeiro mandato à frente da Associação Comercial de São Paulo e da Federação das Associações Comerciais do Estado e da Confederação Nacional. A situação era difícil para o país, em consequência dos juros excessivamente elevados. Afif, tendo preparado planilha detalhada do problema, solicitou audiência ao presidente, que o recebeu em Brasília. Após expor o quadro calamitoso, concluiu com esta alegoria:
‘Um homem, em certo reino, foi fazer um pedido ao seu rei. Este, que estava com as duas mãos às costas, disse ao servo: ‘atenderei seu pedido se você responder corretamente a pergunta que vou lhe fazer: a ave que tenho em minhas mãos está morta ou viva?’ O que ele apresentou, na verdade, foi um dilema – situação em que não há saída favorável. Então pensou: se ele disser que a ave está morta, eu a exibo viva. Mas se disser que está viva, eu aperto seu pescoço e a mato! Não há como ele acertar. Pensando um instante, o homem respondeu: ‘Majestade, a vida da ave está em vossas mãos1’.
Guilherme Afif Domingos fechou sua fala com esta expressão: ‘Presidente Figueiredo, a vida do empresariado brasileiro está em suas mãos’”!
Aí está: se esse agradável recurso estilístico funcionou para o mestre Jesus, para Esopo, La Fontaine e Afif Domingos e tantos outros, certamente funcionará para você também. Experimente!
DICA DA DICA
Detalhe: não deixe sua fala sem cor e sem luz: insira a alegoria mais conveniente!”
*J. B. Oliveira, consultor de empresas, é advogado, jornalista, professor e escritor.
É membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da Academia Cristã de Letras.
www.jboliveira.com.br – [email protected]