O prefeito Fernando Haddad usou em uma rede social o termo “coxinha”, para se referir a um crítico das ciclovias, e os ouvintes da Rádio Estadão passaram a me perguntar o que é ou quem é um “coxinha”, e claro, precisei pesquisar.
Descobri que a gíria não é recente e remonta às manifestações ocorridas em junho de 2013, conforme página do Observatório da Imprensa, publicada em setembro do mesmo ano em artigo assinado pelo mestre em Planejamento Urbano, Sérgio da Mota e Albuquerque.
O texto começa informando que, na época dos protestos, a Folha de S. Paulo, em sua revista de domingo, tentou explicar o novo significado do velho e gorduroso petisco de botequim, explicando: “trata-se de gíria paulistana”. Para explicar o novo significado da palavra, a revista entrevistou pessoas que já tinham ouvido falar em “coxinhas”. Logo surgiu um consenso sobre o seu significado: “coxinha” é gente engomada, certinha, que segue a maioria. Gente convencional e conservadora, em suma.
Mas foi o diário Correio do Brasil, de Curitiba – também de 2013 – que apresentou a melhor explicação para o vocábulo que tomou conta dos protestos. O periódico não buscou somente a nova acepção da palavra, mas sua relação com as manifestações. Juntou o sociólogo Leonardo Rossato e o professor de português Michel Montanha, que elaboraram uma análise sociológica do “coxinha” e apresentaram uma hipótese sobre sua origem:
“Coxinha, sociologicamente falando, é um grupo social específico, que compartilha determinados valores. Dentre eles está o individualismo exacerbado e dezenas de coisas que derivam disso: a necessidade de diferenciação em relação ao restante da sociedade, a forte priorização da segurança em sua vida cotidiana, como elemento do ‘não me misturo’ com pessoas que considero de mim, além da forte necessidade de se parecer bom moço”.
Outro significado tem origem nos pobres “almoços” dos policiais nos anos de 1980, que recebiam vales-refeição tão desvalorizados que acabaram apelidados de “vale-coxinha”. Com o tempo, policial e coxinha tornaram-se sinônimos. Os programas policiais no rádio e na TV acabaram por estender o novo significado da palavra a todos aqueles policiais, civis ou militares, preocupados com a segurança acima de tudo.
Concluo que os “coxinhas” parecem estar identificados com São Paulo, fenômeno tipicamente paulistano daqueles que se dizem conservadores ou de direita, sem saber de fato o que é ser de direita, mas simplesmente porque não concordam com as idéias do PT. Como tal o prefeito reagiu em tom nervoso, mas disse depois que “com bom humor você desanuvia o ambiente”.
Fernando Haddad reside no Paraíso, bairro vizinho à Vila Mariana, e como tal conhece o Veloso Bar, que produz a melhor coxinha de São Paulo e frequentado por um seleto público entre a juventude e a meia idade e de nível superior. Pelo twitter ele brincou. “Fui ao excepcional Veloso comer uma coxinha e um ‘coxinha’ reclamou das ciclovias. Fiquei confuso”… “Até tu, Brutus?” Deve ter perguntado o prefeito que não esperava tal manifestação naquele bar.
Finalizando, depois de parafrasear o imperador romano Júlio César, acabei sendo questionado por um ouvinte. E você Geraldo, se considera um “coxinha”? Em dúvida quase me ofendi, mas diante dos microfones para responder utilizei a frase mais conhecida de Willian Shakespeare. “Ser ou não ser, eis a questão”.
E você o que é?
(*) Geraldo Nunes, jornalista e memorialista, integra a Academia Paulista de História. ([email protected]” data-mce-href=”mailto:[email protected]“>[email protected]).