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Os 50 anos do disco mais emblemático dos Beatles

em Colunistas, Geraldo Nunes
sexta-feira, 02 de junho de 2017
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Considerado o melhor e o mais influente álbum da história do rock, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, completou 50 anos de seu lançamento na Inglaterra, nesta última quinta-feira, 1º de junho

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A importância desse trabalho apresentado em 1967, está no fato dos quatro rapazes de Liverpool terem juntado num só long-play, além de belas canções, arranjos instrumentais inovadores com uma qualidade técnica que passou para a história por ter sido o primeiro disco gravado em quatro canais de áudio, algo inédito até então. Se isso não bastasse, a capa trazendo John, Ringo, Paul e George em trajes militares, tendo ao fundo a colagem de fotos com inúmeras personalidades é assunto que demanda longas conversas até hoje. Enfim, um clássico para todas as gerações.

Os Beatles nasceram criativos. Antes deles todos os grupos musicais uniam o acompanhamento a uma voz principal e com os quatro foi diferente: todos tocavam e cantavam, se necessário ao mesmo tempo formando corais e duetos com uma afinação incrível. Começaram com “She Loves You”, “I Want To Hold Your Hand”, “Help” e outros sucessos que sacudiram multidões e os levaram a excursionar pelo mundo.

Mas em 1966, os Beatles sentiram que a qualidade do trabalho deles estava entrando em declínio e decidiram parar fazer shows ao vivo para se dedicar a canções mais elaboradas embora ainda não tivessem certeza dos rumos que iriam tomar. Durante um voo de retorno das férias, Paul Mc Cartney teve a ideia, ainda dentro do avião, de criar uma nova banda de rock dentro daquela já existente. Desse pensamento veio a proposta de se aposentar os terninhos em definitivo. Decidiram vestir uniformes militares do início do século XX mas bem coloridos, para apresentar de maneira bem alegre e também romântica um personagem musical que surgiria a partir daquele trabalho, o “Sargento Pimenta dos Corações Solitários”.

sgt-pepper temproarioSem o compromisso com viagens e turnês o grupo pôde se concentrar integralmente na produção de disco um disco com aquele nome. Deram liberdade criativa ao produtor musical e arranjador George Martin e a inovação perfeccionista tomou conta dos estúdios da Abbey Road, porque o “Sgt. Pepper’s” demorou mais de 700 horas para ficar pronto e teve um custo final perto dos US$ 75 mil, algo também inédito e surpreendente porque, se comparado ao primeiro álbum “Please, Please Me”, gravado integralmente em um único dia quatro anos antes, o custo deste seria zero.

Durante as gravações Paul Mc Cartney ia pensando na capa do disco. Ele fez um esboço em um pedaço de papel, queria primeiro uma multidão reunida em uma praça tendo à frente a banda do Sargento Pimenta. Depois a ideia foi mudando, os Beatles de terno viraram bonecos de cera com um olhar tristonho por estarem dando adeus à antiga fórmula para o renascimento de uma banda muito mais criativa. Ainda, porém, faltava alguma coisa.

Paul falou de suas ideias a um amigo, Robert Frazer, um notável comerciante de arte, que por sua vez, o levou para conhecer Peter Blake, um dos artistas fundadores do Movimento Pop Art. Peter então modificou o desenho sem deixar de seguir o conceito inicial de uma reunião de pessoas em torno dos Beatles e assim se chegou à capa que todos nós conhecemos. Para que a obra da capa fosse concluída, seria necessário escolher a galeria de fotos das pessoas a serem representadas na capa. Paul decide então que os demais Beatles relacionassem nomes de pessoas que admiravam e que gostariam de ver entre eles.

01-381940 temproarioA foto principal da capa mostraria os quatro Beatles uniformizados e de bigode, uma surpresa até então. Depois começaram a ser colocadas ao fundo o rosto e até partes do corpo das várias celebridades escolhidas, como Marilyn Monroe, Marlon Brando, Karl Marx, D.H. Lawrence, Aleister Crowley e até Shirley Temple. John Lennon quis colocar Mahatma Gandhi, Adolf Hitler e Jesus Cristo, mas estas figuras no momento final acabaram ficando de fora.

Jesus não foi incluído por causa de uma declaração dita um ano antes pelo próprio Lennon de que os Beatles eram mais populares que ele. Colocá-lo na capa poderia gerar mais protestos; Gandhi foi retirado por receio da gravadora em ofender o mercado indiano; e Hitler por ofender a comunidade judaica bem como a diversos outros setores da política. Outros excluídos da lista de John Lennon foram Brigitte Bardot, o Marquês de Sade e Friedrich Nietzsche, mas permaneceram figuras polêmicas como Oscar Wilde, Edgar Allan Poe, Lewis Carroll e Bob Dylan.

George Harrison preparou uma lista onde só incluiu gurus indianos. São eles: Sri Mahavatara Babaji, Sri Yukteswar Giri, Sri Lahiri Mahasaya e Paramahansa Yogananda e todos entraram. Ringo Starr não se interessou em escolher ninguém para o mural, porém apoiou as escolhas feitas pelos demais. Paul McCartney também teve nomes rejeitados mas ficaram William Burroughs, Mae West, Marlene Dietrich, Diana Dors, Karlheinz Stockhausen, H.G. Wells, Carl Jung, Aubrey Beardsley, Alfred Jarry, Tom Mix, Johnny Weissmuller, Rene Magritte, Tyrone Power, Richmal Crompton, Dick Barton, Tommy Handley, Albert Stubbins e Fred Astaire, W.C.Fields. Tonny Curtis, Sonny Liston e H.C. Westerman e num dos cantos um pulôver dos Rolling Stones sobre uma boneca de pano.

00 01 de junho de 1967 os beatle temproarioApós seu lançamento, o álbum “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band vendeu 4,5 milhões de cópias pelo mundo todo. O sucesso foi tamanho que jornais sensacionalistas da época passaram a dizer que a capa continha uma mensagem oculta sobre uma suposta morte de Paul McCartney, já que na parte inferior da capa parece haver uma tumba adornada com flores e um contrabaixo também feito de flores com apenas três cordas, o que significaria a falta de um Beatle.

Se fosse verdade o novo Paul Mc Cartney, que diziam ser um sósia do falecido, segue ainda vivo criativo e prometendo relançar com novos arranjos as mesmas músicas do disco lançado há 50 anos. Seria ele tão bom ou melhor que o Paul Mc Cartney original? Acredite, se quiser.

(*) Geraldo Nunes, jornalista e memorialista, integra a Academia Paulista de História. ([email protected]” data-mce-href=”mailto:[email protected]“>[email protected]).