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Mais frases mal…ditas!

em Colunistas, J. B. Oliveira
segunda-feira, 30 de julho de 2018

                Mais frases mal…ditas!

 

 

 

 

 

                                                                                                                                                           * J. B. Oliveira

 

 

 

 

 

 

 

Vale aqui a mesma observação feita anteriormente: a referência não é à palavra maldita, vocábulo que traduz a ideia de maldição, danação, imprecação, esconjuro, anátema etc., mas à palavra dita de forma incorreta, fora do objetivo contextual a que se destinava…

 

E aí recorremos à história recente do Brasil. Eu estava no serviço ativo da Força Aérea Brasileira na época da renúncia do 22º presidente da República, Jânio da Silva Quadros (25 de janeiro de 1917 – 16 de fevereiro de 1992), ocorrida em 25 de agosto de 1961. O inusitado fato trouxe uma fase de grande instabilidade política ao país.

 

Como os ministros militares resistiam à posse do vice-presidente João Goulart, o então presidente da Câmara dos Deputados Paschoal Ranieri Mazzilli (27 de abril de 1910 – 21 de abril de 1975), assumiu a presidência em dois curtos períodos: 25 de agosto a 8 de setembro de 1961 e 2 de abril a 15 de abril de 1964.

 

Em sua carta de renúncia, Jânio se queixava de pressões que o impediam de governar: “forças terríveis levantam-se contra mim, e me intrigam ou infamam…”!

 

Ao dar a notícia, o popular Repórter Esso – “O primeiro com as últimas” – usou a expressão “forças ocultas”, que acabou prevalecendo sobre a forma original.

 

Na sequência dos eventos, e para viabilizar a posse de João Goulart – reduzindo-lhe o poder – o regime parlamentarista foi implantado através de emenda aprovada em setembro de 1961. Com isso, Jango não seria Chefe de Governo, mas apenas Chefe de Estado, ou, como ironicamente se dizia, “Rainha da Inglaterra”!

 

Ninguém menos que Tancredo Neves foi o primeiro a exercer o cargo de Primeiro-Ministro, vindo a ser sucedido por Brochado da Rocha e depois por Hermes Lima. O regime durou até que um plebiscito o encerrou, em janeiro de 1963. A essa altura, o país estava praticamente ingovernável, mergulhado em profundo caos político e social, com manifestações e contramanifestações de grupos antagônicos – normalmente pró e contra o presidente João Goulart, o “Jango”. A indisciplina se instalara no meio militar, especialmente com as ações do Cabo Anselmo (José Anselmo dos Santos), líder da Revolta dos Marinheiros. Outros três eventos: a Revolta dos Sargentos (do Exército, Marinha e Aeronáutica – em defesa do direito de elegibilidade dos graduados), o Comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964 e a Festa do Automóvel Clube, no dia 30 do mesmo mês, foram a gota d’água para a eclosão da revolução de 31 de março, que instituiu o governo de exceção – governo militar – que por 21 anos permaneceria no poder…

 

O destaque, porém, é para a frases…

 

Na quadra mais furiosa, fervente e complicada que antecedeu o movimento de 31 de março, a frase que mais se ouvia era: “O Brasil está à beira do abismo!”

 

Com o acesso dos militares ao governo do país, afastada a ameaça da tomada do poder pelas forças de esquerda, surge o primeiro slogan de vitória: “O Brasil deu um passo à frente!”

 

Então, no período de ufanismo que se instalou na nação – bem representado por Dom e Ravel, em sua música “Eu te amo, meu Brasil, eu te amo” – a frase de efeito passou a ser mais forte: “Ninguém segura este país”!

 

 

 

O problema está no alinhamento sequencial das três expressões:

 

 

 

– O Brasil está à beira do abismo!

 

– O Brasil deu um passo à frente! e

 

– Ninguém segura este país!

 

 *J. B. Oliveira, consultor de empresas, é advogado, jornalista, professor e escritor.

É membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da Academia Cristã de Letras.

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