Lembrados
Como será que algumas pessoas serão lembradas? A história nos ensina, pelo olhar dos vencedores, como é que se portavam ou importavam uns com os outros.
Dependerá da relevância e atitude positiva ou negativa do personagem: se de um político, estadista, ditador, militar, cantor, jogador e por aí vão essas biografias. Como um sujeito que se dedicou à sua comunidade, de um pacifista, anarquista, progressista ou conservador. As definições e estigmas metafóricos se multiplicam para tentar explicar em síntese quem foi aquele sujeito.
Em determinado nível de abordagem, poderão passar por vagas recordações ou interpretações difusas, beirando a ficção ou definitivamente se tornando uma lenda. Quem sabe nos dizer algo que seja verdade dos governos militares? Ou da Monarquia após a Lei do Ventre Livre? Ou bastidores da Constituição Federal de 1988? Quem fez o quê? Quem ajudou a sair da crise ou contribuiu para aprofundar em razão de seus interesses?
O cerne da questão: interesses. Por mais que nos dediquemos às leituras, nem sempre saberemos com quem estamos lidando no presente ou passado. Há sempre um particular que fica obscurecido, indefinido, camuflado por importâncias que não se conseguirão estabelecer. Nem aos olhos de um pesquisador atento ou insistente acadêmico que se debruça sobre dados ou fatos, poderá nos fornecer alguns esclarecimentos, pois poderá ser influenciado pela sua postura ideológica.
Aceitamos o que se mostra e recordaremos do que nos cerca, e de como conseguimos acompanhar o que temos acesso, a não ser que se conviva com o biografado. E, mesmo assim, conforme o grau de influencia, esse poderá censurar o que não lhe convém e passará uma visão distorcida da sua verdadeira identidade. Maus serão vistos como bons e vice versa.
Quem sabe, daqui uns cinquenta anos, jovens de vinte e poucos anos, que estão sem rumo em alguns projetos, contando a seus netos esses dois anos, 2014 a 2016, poderão resumir em uma linha: “- Foi um momento difícil para se compreender”. Há muito para se saber e pouco a se compreender.
O que se sabe é que as regras de funcionamento dessa máquina do Estado, em todos os seus níveis, têm raízes plantadas em terrenos pantanosos, difícil ou obscuro acesso, que geram distorções. É a história responde: criamos no passado os monstros que assombram o presente. Afinal, os tempos serão lembrados pelas pessoas que ajudaram a construí-lo.
Quem se lembra de Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Prudente de Moraes, Campos Sales, Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Venceslau Brás, Delfim Moreira, Epitácio Pessoa, Arthur Bernardes, Washington Luís, Júlio Prestes, Menna Barreto, Isaías de Noronha, Augusto Fragoso, Getúlio Vargas, José Linhares, Gaspar Dutra, Café Filho, Carlos Luz, Nereu Ramos, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros, Ranieri Mazzilli, João Goulart, Castello Branco, Costa e Silva, Aurélio Lyra, Augusto Radamaker, Márcio Melo, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel, João Figueiredo, Tancredo Neves, José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, Luis Inácio, Dilma Roussef, Michel Temer?
(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).