COMO ANDA SUA ORATÓRIA FAMILIAR?
– Eu já ouvi falar em Oratória Política, Oratória Jurídica, Oratória Sacra e até em Oratória Negocial, mas…Oratória FAMILIAR? Existe isso?!
– Sim, existe. Por uma simples razão, já exposta anteriormente: Oratória tem sua origem na palavra latina ORIS – Genitivo singular do substantivo OS, ORIS, que se traduz por “da boca”. Logo, toda e qualquer comunicação FALADA – isto é, que procede da boca – é ORATÓRIA! Então, a comunicação mantida em casa, com a esposa ou esposo, filhos, nora, genro, com o QC ou com a SS (Querido Cunhado e Santa Sogra) é, em última instância ORATÓRIA FAMILIAR. Aquela conversação diária que se desenvolve na mais antiga das instituições humanas: o lar. Pode até não parecer mas, se bem aplicadas, as regras da oratória farão fluir muito melhor as relações em família. Esse cuidado é tão antigo, que o Apóstolo São Paulo dele se ocupa em duas de suas epístolas (é bom esclarecer que as epístolas não eram – com julgam alguns – as mulheres dos apóstolos!). Nas cartas aos Efésios e aos Colossenses, faz ele recomendações bem pontuais: “Vós, mulheres, estai sujeitas a vossos próprios maridos, como convém ao Senhor. Vós, maridos, amai a vossas mulheres e não vos irriteis contra elas. Vós, filhos, obedecei em tudo a vossos pais; porque isso é agradável ao Senhor. Vós, pais, não irriteis a vossos filhos, para que não percam o ânimo. ” (Colossenses, capítulo 3, versículos 18 a 21).
Há pessoas – geralmente homens – que têm um comportamento comunicacional fora de casa e outro dentro. Fora são gentis, corteses, pacientes. No lar, ao contrário, são rudes, hostis. Meu velho professor de Teologia e Psicologia Dr. Reynaldo D. Larossa, narrava um caso colhido em sua experiência clínica.
Tratava-se de um homem cuja esposa, a duras penas, conseguira levar à consulta. É que ele padecia de “doença dos nervos”. Era bravo, impaciente e extremamente nervoso. Se a comida, por exemplo, não estivesse como ele queria, irritava-se, atirava prato, tigelas, talheres ou o que quer que fosse ao chão e dirigia dúzias de palavrões à esposa, aos filhos, noras etc.
Após submeter-se a detida e (propositalmente) demorada bateria de exames, esperava que o doutor dissesse que, de fato, ele era vítima de grave enfermidade nervosa, precisando, portanto, de compreensão e carinho. Ficou pasmo quando, de forma enérgica, o bom Dr. Larossa disse:
– O senhor não é doente. O que o senhor é é muito malcriado!
– Mas doutor, todos sabem que sou doente. Eu não ajo assim porque quero, é que eu sofro dos nervos!
– Diga-me uma coisa: o senhor trabalha? Qual é sua atividade profissional?
– Trabalho sim, sou gerente de uma empresa comercial.
– E quando o seu chefe o contraria, o que o senhor faz? Xinga-o? Grita com ele? Joga tudo no chão?
– Nem pensar! Eu não posso fazer isso na empresa, porque seria demitido!
Pois é! Como em casa não o demitem das funções de pai e esposo, o senhor abusa! Faça assim: da próxima vez que for contrariado, pense que foi seu diretor que fez isso e o problema estará resolvido!
Num certo local, na zona rural, marido e mulher tomavam café na varanda da casa. De repente, o marido vê que, na horta à sua frente, uma vaca estava devorando a plantação.
– Eh! Mulher! Olhe lá: com certeza você deixou o portão aberto e vaca entrou na horta!
– Eu, né ? A culpa é sempre minha! O senhor é que, até hoje, não consertou aquele buraco na cerca e por isso a vaca entrou! Eu já cansei de falar, mas você deixa tudo pra depois…
E enquanto discutiam, a vaca se fartava de verduras e legumes…
Numa cidade no norte da Alemanha, um casal tomava café, quando o marido reclamou:
– Este café está horrível!
Ela poderia ter dito: – “Horrível, né? Bom mesmo é aquele purgante que sua mãe faz…!”
Sem dúvida, ele iria retrucar: – “Purgante? O café da minha mãe? E por acaso aquela água choca que sua mãe faz é café?” Na sequência, entraria uma longa lista de “carinhosos” termos zoológicos: burro, anta, besta, mula, vaca, cobra…
Mas ela, sabiamente, disse apenas a expressão mágica: POR QUÊ?
– Por que está com gosto ruim, azedo, parecendo mofado…!
Procurando a causa do problema, ela descobriu que o gosto ruim era devido ao uso e reúso do coador de pano. Depois de algum tempo, os resíduos se impregnavam no tecido e comprometiam o gosto do café. O que ela fez? Fez vários furos no fundo de uma caneca de latão, recortou um pedaço de mata-borrão e o colocou naquele fundo e filtrou ali o café. O resultado foi tão surpreendente, que o casal resolveu comercializar sua descoberta. Montaram uma loja de 8 m² em Dresden, em 1908. Algum tempo depois, na Feira de Amostras de Leipzig, fizeram a primeira venda de 1.250 porta-filtros de alumínio com filtros de papel. Em 1929, a indústria foi transferida para Minden, onde se encontra até hoje. A matriz ocupa área de 100.000 m² e seu parque industrial, na Alemanha, conta com mais 10 unidades e emprega mais de 4.000 pessoas! É uma das 100 maiores empresas alemãs e possui subsidiárias em mais de uma centena de países…
Essa história real, ocorrida com a senhora MELITTA BENTZ, criadora do filtro de papel Melitta, mostra que, para pôr em prática a BOA ORATÓRIA FAMILIAR, basta seguir esta dica de São Paulo:
“As vossas palavras seja sempre agradáveis, temperadas com
sal, para que saibais responder a cada uma como convém.”
(Epístola aos Colossenses, capítulo 4, versículo).
J. B. Oliveira é Consultor de Empresas, Professor Universitário, Advogado e Jornalista.
É Autor do livro “Falar Bem é Bem Fácil”, e membro da Academia Cristã de Letras.
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