Presidente sem partido

em Heródoto Barbeiro
quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Heródoto Barbeiro (*)

O famoso quiromante lê a mão que lhe é estendida. O jovem espera que o mago lhe diga coisas boas como enriquecer, arranjar um bom casamento ou um emprego em uma empresa confiável.

Nada disso. Depois de algum tempo lendo as linhas das mão do consulente vaticina: “vejo que você vai fazer uma brilhante carreira política entre outros postos vai ser deputado e depois presidente da república. Vai ser assassinado como o presidente americano Abraham Lincoln em um atentado em uma cidade do interior do Brasil”.

Ninguém leva à sério nem a previsão nem as lágrimas que rolam dos olhos do mago. A carreira política do consultado é meteórica e em pouco tempo está às portas do Palácio do Planalto. Brasília é o seu objetivo e a presidência seu sonho maior. Alguém já disse que ser presidente da república é destino, outros dizem que é pura sorte, outros ainda acham que é fruto de uma carreira política passo a passo conquistados com muito apoio, dinheiro e traição.

O partido não quer saber do nome dele na eleição presidencial. Nos bastidores é chamado de paranoico, sinistro ou de tendências ditatoriais. Contudo, os partidos não possuem ideologia nem programa de governo.
Tem apenas apetite para chegar ao poder, dividir os ministérios com porteira fechada, rifar os cargos no governo federal e negociar com a elite econômica as obras e vantagens que rendem propinas para os áulicos. O resto não importa.

É necessário possuir um tema e um slogan que movimentem uma massa de eleitores que não prestam atenção no que realmente se passa atrás do biombo que esconde um verdadeiro bacanal político.

Quer um salvador da pátria, o mesmo que está sendo esperado desde os tempos iniciais da república com Antonio Conselheiro, que foi morto e virou herói no sertão do nordeste. Um dia o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão… e aí as coisas vão mudar.

Se o pretendente tem o apelo popular necessário para somar os votos e um compromisso com os dirigentes partidários, isso é o que interessa. Não passa pela cabeça de ninguém que ele vá mudar de lado e trair os compromissos assumidos.

A previsão do bruxo se completa. Ele diz que o presidente será reeleito, mesmo que o partido que o apoiou o abandone e ele passe a procurar no Congresso Nacional uma base de apoio.

Não é difícil com tantas bocas abertas como um cardume desesperado de fome dos benefícios de controlar o Estado. Está liberado pelo partido para escolher o seu colega de chapa, o candidato a vice presidência. Em clima de euforia o povo elege o candidato que tem como mote principal o combate à corrupção.

É eleito com 48% dos votos enquanto o candidato apoiado pela esquerda obtém apenas 28 %. A previsão do atentado contra a vida do presidente não se concretiza, alguns até dizem que é uma pantomima para angariar apoio popular.

Jânio da Silva Quadros é eleito presidente do Brasil e vai governar na nova capital, Brasília. O povo comemora com o hit musical da época: ”varre, varre, varre vassourinha/varre toda a bandalheira/que o povo está cansado/de sofrer desta maneira”.

O governo anterior deixa o país quebrado, gastou o que pôde e não pode com a nova capital, mas deu início a uma elite de empreiteiros que vai ficar famosa no Brasil.

(*) – É editor chefe e ancora do Jornal da Record News em multiplataforma (www.herodoto.com.br).