Heródoto Barbeiro (*)
O presidente americano é alvo da imprensa. Seus adversários republicanos o acusam de ser indeciso e sem liderança.
Exigem uma clara definição sobre a posição dos Estados Unidos da América na guerra que se desenvolve na Europa. As fábricas de armamentos ganham dinheiro exportando tudo o que podem e alimentam o chamado complexo militar-industrial. Mas não é suficiente.
As nações europeias esperam uma decisão firme, que possa contar com o poderio bélico do Tio Sam e acabar com um morticínio que já dura um ano. A Casa Branca não dá sinal que vai enviar forças militares, o secretário de estado só dá declarações evasivas e vez por outra reafirma a posição do governo de neutralidade.
O congresso está dividido, porém os republicanos avançam e derrotam várias vezes os democratas, especialmente no que diz respeito à política externa americana. O Brasil tem posição idêntica. Optar pela neutralidade. Além de ser um país com condições militares frágeis, vive da exportação de commodities que são vendidas aos dois lados.
Há quem no Congresso Nacional defenda que o Brasil se decida e fique abertamente ao lado dos aliados europeus. Afinal, o mundo condena a guerra e abomina os bombardeios de cidades, escolas, hospitais e a morte de milhares de civis. A batalha não se dá somente nas áreas rurais.
Os estrategistas do morticínio sabem que é preciso destruir as fábricas de armas e munições do inimigo, bombardear centrais elétricas, destruir pontes e minar portos para arruiná-los economicamente. O mundo depende do fluxo do comércio marítimo para continuar sobrevivendo. A guerra tem efeitos catastróficos em todos os continentes e afeta também o Brasil.
Os discursos ficam cada vez mais ásperos no Congresso Nacional brasileiro. As bancadas se dividem entre os que querem manter a neutralidade e os que defendem o apoio à Entente. Rui Barbosa é um deles. O presidente Venceslau Brás, enquanto pode, representa os exportadores de café que tem o mercado europeu como um dos grandes compradores. Afinal, a guerra está muito longe do Brasil. Mas não dos Estados Unidos.
Depois de vários navios afundados por submarinos alemães, a morte de civis americanos e a pressão da imprensa, Woodrow Wilson manda para o congresso uma declaração de guerra contra a Alemanha do II Reich e seus aliados. Barcos brasileiros também são afundados a caminho da Europa. Vence o Águia de Haia, Rui Barbosa, e o Brasil entra na primeira guerra mundial.
Uma equipe de médicos, enfermeiros e aviadores parte para apoiar a Entente. O pouco de poder marítimo se resume em navios antigos e com pouco poder de fogo. Ainda assim, ao se aproximar de Gibraltar, abre fogo, em pleno Atlântico, contra um submarino germânico.
O saldo é a morte de 42 toninhas, primos dos golfinhos, que foram confundidos com os boches. E elas não falavam uma única palavra em alemão.
Auf wiedersehen.
(*) – É jornalista, apresenta o Jornal Nova Brasil, comentarista do R7 e Record News e Nova Brasil, além de autor de vários livros de sucesso. Palestras e Midia Training (www.herodoto.com.br).