Heródoto Barbeiro (*)
Ele é considerado um dos gênios do futebol. A origem humilde apenas confirma que a genialidade do craque não depende da classe social a que pertence.
Logicamente que a chegada dele até um grande time de futebol de um país de grandes times e torcidas, é muito mais difícil. Sua estrutura física não ajuda uma vez que não tem nem altura nem peso para enfrentar os vigorosos zagueiros dos times adversários. O futebol é um esporte de força, de contato e é preciso ser lépido para escapar das traves da chuteira do seu marcador. Mas gênio é gênio.
A distrofia física é apenas um detalhe aos olhos do médico do time. No início da carreira ninguém acreditava que pudesse se sobrepor a uma diferença de seis centímetros entre as duas pernas. A perna direita era flexionada para a esquerda, e a esquerda apresenta o mesmo desenho. Ninguém sabe, com certeza, se essa deformidade é congênita ou consequência da paralisia infantil. Afinal os bairros mais afastados e pobres da capital do país não têm assistência médica.
Os meninos brincam nas ruas, muitas vezes ao lado do esgoto à céu aberto, e a preferência da molecada é jogar bola. Tudo improvisado, camisa, traves e o gostoso “campinho “, palco dos gols, dribles e brigas entre os adversários. Daí até se tornar um ídolo do futebol mundial é um longo e penoso caminho, que só os gênios conseguem.
A vida pessoal agita e influencia decisivamente carreira do craque. Sua vida íntima é marcada por tragédias. Os envolvimentos românticos pululam nas colunas de fofocas, ainda que as redes sociais não estejam por enquanto ao alcance dos buscadores de escândalos. A dependência com álcool se agrava na mesma proporção que sua popularidade. É fotografado ébrio mais de uma vez .
Os salários melhores atraem legiões de aproveitadores e o jogador não se apercebe que está cada vez mais envolvido em relacionamentos passageiros e custosos. Os filhos são o resultado dessas uniões. E nem mesmo a excursão do seu time para o exterior o livra de um relacionamento com uma fã sueca e com ela ter mais um filho.
Os políticos de aproximam do ídolo e se aproveitam para usufruir de sua popularidade. Fotos com candidatos, nos palácios do governo, nas escadas dos aviões ocupam grande espaço das seções de esporte. Mas nada se compara com as fotos e reportagens que vêm da Europa.
A copa do mundo é a oportunidade de mostrar o talento e a pujança do futebol latino americano. Com isso se abre a porta para que muitos jogadores sejam contratados por times europeus e se tornem ídolos nos dois lados do Atlântico. A promessa é alto salário, prestígio, encontro com artistas e uma vida de sonhos.
O palco para a consagração é o campeonato mundial da Fifa, com a atuação das melhores equipes do mundo, inclusive a da Inglaterra, que se auto domina inventora do futebol. Tem até locutor esportivo que apelida o futebol de “esporte bretão”. A seleção nacional está preparada para brilhar. Não conta com a força do destino, que logo no segundo jogo, através uma contusão, deixa de fora o maior jogador de todos os tempos.
É a oportunidade do ponta direita, Mané Garrincha, assumir a liderança do time canarinho e buscar a conquista do bicampeonato mundial de futebol. O menino pobre do bairro de Pau Grande chega ao auge da fama e recebe o reconhecimento da torcida brasileira. Contudo o destino ainda guardava maus momentos que se arrastaram tanto nos campos de futebol como na vida pessoal.
Mané Garrinha é conhecido pelos amantes do esporte como A Alegria do Povo.
(*) – É âncora do Jornal da Record News em multiplataforma ([email protected]).