Heródoto Barbeiro (*)
Aviões não são jogados contra prédios públicos. Desde que ele se tornou uma arma, na Primeira Guerra Mundial, os objetivos sempre foram militares.
Os ataques são direcionados a tropas inimigas, carros blindados, quartéis, navios ou aviões inimigos. Não passa pela cabeça de ninguém atirar uma aeronave em um prédio no meio de uma grande cidade, seja ela a capital do país inimigo ou não. Principalmente a sede do governo, um local sempre bem protegido. Um avião civil é para transportar passageiros e cargas entre aeroportos nacionais e internacionais.
Pode até transportar equipamentos militares, mas isso coloca a vida dos pilotos e passageiros em perigo e ninguém quer assumir uma responsabilidade tão grande. Tornar civis – homens, mulheres e crianças – que viajam em verdadeiros escudos humanos. Diante dessas premissas, os comandos militares aeronáuticos sequer consideram ter que armar aviões civis, revistar a carga colocada no porão ou fazer uma fiscalização rigorosa em todos os passageiros que embarcam e desembarcam nos aeroportos de maior tráfego aéreo.
Atirar um avião contra um alvo inimigo, com a morte do piloto, é um episódio da Segunda Guerra Mundial. Pilotos suicidas japoneses, os kamikazes, são treinados para morrer. Devem jogar os seus aviões de caça contra os navios da frota americana do Pacífico, principalmente contra os porta-aviões. Estes são uma verdadeira base aérea flutuante e representam o maior perigo para a defesa do Japão. Nasce uma mistura de religião com militarismo, haja vista que nos mitos antigos são os ventos sagrados, os kami kazês, que salvam o país de invasões do inimigo.
Quanto aos sequestros de aviões de passageiros, com estes se tornando reféns dos terroristas, as coisas mudam. Novamente a religião garante que quem morrer na guerra santa vai direto para o céu, com direito às delícias do paraíso. Uma vez provada a eficiência da ação terrorista, a responsabilidade pela morte dos inocentes cai no colo do país que empresta a sua bandeira para a companhia aérea. E os pedidos são terríveis. Começam com a execução de alguns passageiros e a certeza de que vão conseguir o que pedem: a liberação de terroristas presos no exterior e o depósito de milhões de dólares em bancos internacionais para suprir outros grupos de guerrilheiros em vários lugares, especialmente na África e no Oriente Médio. Até quando essas nações vão se curvar a esse tipo de chantagem com inocentes?
Estar a bordo é um terror. Não passa pela cabeça de ninguém que um avião civil possa se tornar uma arma de guerra. A não ser que seja atirada contra a sede do governo. O comandante se surpreende com a entrada de um homem na cabine de comando, armado com um revólver. O copiloto pede socorro através do rádio, toma um tiro na nuca e morre instantaneamente. O sequestrador grita que quer mudança da rota para a capital do país para jogar o avião contra o palácio do governo. Raimundo Nonato é passageiro do voo 375, da Vasp, que sai de Porto Velho, no Acre, com destino ao Galeão, com escala em Brasília e Belo Horizonte.
Raimundo ameaça matar o comandante Fernando Murilo. Este faz uma manobra acrobática com um avião com 100 passageiros para desequilibrar Raimundo. Murilo tenta um pouso sem sucesso em Goiânia. Por fim, executou um parafuso e quase sem combustível conseguiu aterrissar. Atordoado, o sequestrador mantém todos a bordo e quer um avião menor para fugir. É baleado pela polícia e o sequestro termina. Todos, com exceção do copiloto, se salvam 13 anos antes dos ataques às Torres Gêmeas de Nova York e ao Pentágono, em Washington.
(*) É jornalista do Record News, R7 e Nova Brasil (89.7), além de autor de vários livros de sucesso, tanto destinados ao ensino de História, como para as áreas de jornalismo, mídia training e budismo.