Heródoto Barbeiro (*)
Não é fácil mudar de posição. Nem no mundo corporativo, nem no mundo político, nem no mundo pessoal.
Rever uma decisão tomada exige coragem, uma vez que muitos poderão cobrar coerência, ou traição dos antigos ideais.Uns confundem coerência ao apego. Alguém já disse que só os idiotas não mudam, e a vida está cheia deles, são os famosos regradores. Outro lembrou que sem mudança o mundo sempre seria o mesmo, talvez ainda estaríamos vivendo em uma civilização hidráulica no Nilo, Eufrates ou Amarelo. Contudo mudar de opinião ou de posição exige coragem, força de vontade e convicção.
Imagine o pai ou a mãe recebendo em casa o namorado da filha, ou do filho, o mesmo que recebeu duras críticas sobre seu comportamento. Ou o diretor reconhecendo publicamente que é preciso mudar o foco dos negócios depois de defender uma estratégia totalmente diferente. Um dos riscos dessas mudanças é perder apoio dos que se apegam ao passado. Abandoná-lo é mais difícil do que aderir a uma nova ideia. Os aderentes estão em todos os lugares e flutuam ao sabor do vento ou das pesquisas de intenção de voto.
Há inúmeros exemplos na história de mudanças e os resultados foram para melhor. Nelson Mandela, por exemplo, trocou a luta armada contra o apartheid pela luta política e conquistou o poder. Mudou o foco de seus liderados, ao invés de revidar os anos de opressão, propôs que construíssem juntos um novo país.
A Europa, berço e foco de um nacionalismo extremado, o que ajudou a incendiar o continente com duas grandes guerras no Século 20, e milhões de mortos, optou por construir um estado multinacional. -2- O nascimento da União Europeia é um exemplo de sucesso ainda que haja dificuldade. Mesmo assim, mais e mais nações querem fazer parte, mais recentemente a Ucrânia.
Fazer autocrítica e adotar novas posições não é sintoma de fraqueza ou falta de convicção, é pensar e agir estrategicamente. Outro exemplo é a China. Em pouco tempo deixou de rotular os Estados Unidos como o “ tigre de papel” e se tornou seu maior aliado comercial. Abandonou o velho comunismo de guerra, esqueceu os “saltos para frente” e se tornou a segunda economia capitalista do mundo.
Só a miopia social, o fundamentalismo, a ignorância são capazes de impedir as mudanças, sejam elas estruturais, conjunturais ou comportamentais como a de permitir que as mulheres iranianas decidam se devem ou não andar cobertas por um véu. Ou de uma nigeriana de trocar de religião por convicção, ser presa, condenada à morte e por pouco não ser executada. Mudar ou não é uma atitude pessoal, intransferível, portanto a responsabilidade da decisão também é pessoal.
(*) É jornalista do Record News, R7 e Nova Brasil (89.7), além de autor de vários livros de sucesso, tanto destinados ao ensino de História, como para as áreas de jornalismo, mídia training e budismo.