Heródoto Barbeiro (*)
É uma decisão do Poder Legislativo.
O chefe de Estado não tem que se meter em uma questão que mexe com o dia a dia da população.
Mudar o horário é uma decisão que afeta a vida de milhões de pessoas. As que apoiam a medida e as que a repudiam. Quem eles pensam que são para querer monitorar até o tempo, protestam os críticos mais ferozes.
A justificativa é que, adotando um horário modificado com o amanhecer, vai sobrar mais luz para as pessoas aproveitarem o final do dia. Elas quem, jacaré?
Os trabalhadores vão ter que levantar ainda mais cedo, estarão mais cansados e vão ser mais explorados, principalmente nas fábricas. Os gerentes, verdadeiros capatazes, não perdoam atrasos nem queda da produção nessa fase do capitalismo industrial. Se a mudança do relógio é para gerar ainda mais mais-valia, que venha, dizem os empresários. Os senhores do tempo querem que o Poder Legislativo discuta e aprove a proposta.
A discussão não é nova. Há setores da sociedade que defendem o aproveitamento dos dias mais longos do verão, com mais luminosidade. A elite quer usufruir das tardes quentes nos bares e cafés das cidades, ancorada nas mesas abastecidas com refrescos, sorvetes, ou até mesmo uma dose de gim de boa qualidade com uma pedra de gelo.
Certamente os donos de bares e restaurantes são favoráveis! As lojas podem ficar abertas mais tempo, e com isso aumentar o faturamento, haja vista que os clientes terão mais tempo para compras antes de voltarem para casa. A elite não tem que levantar de madrugada para trabalhar.
Seus afazeres começam bem mais tarde e prova disso é o horário que os bancos e as repartições públicas começam a funcionar, principalmente na capital. O país é conhecido como uma nação conservadora, mas que adota mudanças que outros países considerados progressistas não adotam.
Um panfleto começa a circular com o título de “O Desperdício da Luz do Dia”. O autor defende que os relógios sejam adiantados e o principal motivo é reduzir o consumo da energia elétrica, gerada por usinas térmicas movidas a carvão, e por isso muito cara. Essa mudança vale apenas para o período do verão e volta ao normal nas demais estações.
William Willett, ferrenho defensor do horário de verão, quer mais tempo para praticar esportes, principalmente cavalgadas e passeios no final do dia. O tema vai parar na Câmara dos Comuns do reino britânico. Ele é apaixonadamente defendido por deputados e intelectuais considerados progressistas .
Conan Doyle, o grande escritor e criador do Sherlock Holmes, é a favor. Do outro lado, os conservadores reagem e o projeto é mandado para o arquivo do Parlamento por 15 anos. Em 1916, a Europa está mergulhada na terrível Primeira Guerra mundial. Os países beligerantes buscam de todas as formas reduzir o consumo de matérias-primas e destiná-las para a indústria da guerra. O carvão é uma delas. O mesmo que é queimado para gerar energia elétrica.
Os governos da Alemanha e do Reino Unido adotam o horário de verão como forma de economizar combustível. A mudança sobrevive em pelo menos um quarto do planeta, e até 2019 inclui o Brasil.
(*) – Mestre em História pela USP e inscrito na OAB, é Âncora do Jornal Nova Brasil e colunista do R7 (www.herodoto.com.br).