Heródoto Barbeiro (*)
Vai precisar de muito dinheiro. O Congresso americano discute um investimento enorme para impedir que o avanço russo continue.
Há um temor que um novo polo geopolítico desafie a supremacia dos Estados Unidos. Este é liderado pela Rússia, que conta com apoio espalhado pelo mundo por meio de organizações financiadas por Moscou. Muitas delas estão baseadas na América Latina, uma região considerada área de influência exclusiva dos norte-americanos, desde a edição da chamada doutrina Monroe, ainda no século 19. No entanto, Tio Sam sabe se aliar com as elites locais para impedir que governos hostis liderem alianças.
A América Latina nunca foi uma forte preocupação para o Departamento de Estado americano, seja o presidente um democrata ou republicano. Em geral, os Estados Unidos são o parceiro comercial desses países e ninguém quer perder o fluxo de dólares que essa troca propicia, ainda que seja importação de produtos com alto valor agregado e exportação de matérias-primas.
A tensão militar e política só aumenta. Surge a possibilidade de se reunir os países europeus em um acordo militar com os Estados Unidos e o Canadá. O arsenal nuclear disponível, tanto no Ocidente como na Rússia, é considerado por alguns como uma trava para que uma nova guerra se espalhe pela Europa e atinja todo o planeta. No entanto, as ameaças são constantes por parte do líder russo, que avisa ter condições de competir no campo nuclear com qualquer outro país.
O fato de a Rússia estar sob o controle de um autocrata e seus assessores diretos torna as coisas mais difíceis. As acusações de espionagem são divulgadas dos dois lados. Vez por outra, diplomatas são expulsos do país onde estão creditados, jornalistas presos e oposicionistas desaparecem. Há uma clara polarização no mundo, ainda que nem todos os analistas políticos concordem com isso. Os países da Europa estão em uma enroscada. As potências restauram a prática de que ”quem não está do meu lado, está contra mim“. Não há espaço para ficar em cima do muro.
Finalmente, o Congresso americano vota a liberação da ajuda econômica. Por trás disso está uma tentativa de pôr um freio no avanço dos russos sobre a Europa Ocidental. Os países da parte oriental estão todos sob a tutela do partido comunista russo e são governos títeres. Há uma ameaça clara de confronto entre Estados Unidos e União Soviética. A injeção de dinheiro, especialmente na França, Inglaterra e Itália, é uma proposta de George Marshall, um general americano, estudioso da geopolítica, e que alerta o Ocidente do avanço soviético na Europa.
São 18 bilhões de dólares para custear a recuperação da agricultura, indústria, importação de alimentos e produtos manufaturados. A Segunda Guerra deixou pouca coisa de pé no continente europeu, primeiro pela devastação provocada pelos nazistas comandados por Adolf Hitler. A segunda onda de destruição começa em 1943 com outra demolição pelos exércitos soviéticos do ditador Josef Stálin de tudo o que estava pela frente. O ano de 1947 é reconhecido como o momento em que a Europa começa a respirar novamente e inicia uma recuperação de tudo o que foi perdido. Com exceção das vidas humanas. Com o chamado Plano Marshall, os investidores americanos lucram com as encomendas nos Estados Unidos e na compra de empresas europeias a preço bem baixo.
É mais uma etapa na geração do conflito conhecido como Guerra Fria. Ao mesmo tempo, o Departamento de Estado articula um pacto militar contra a União Soviética, a Otan. A mesma que sobrevive depois do fim da Guerra Fria. Mas o adversário é o mesmo, agora com o nome de Federação Russa.
(*) É jornalista do Record News, R7 e Nova Brasil (89.7), além de autor de vários livros de sucesso, tanto destinados ao ensino de História, como para as áreas de jornalismo, mídia training e budismo.