Democrata x Republicano

em Heródoto Barbeiro
quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Heródoto Barbeiro (*)

Os marqueteiros sabem que imagem é tudo. Um debate na televisão tem garantida a audiência de milhões de telespectadores de costa a costa.

Os Estados Unidos esperam com ansiedade o debate para avaliar a performance dos candidatos republicano e democrata. Os programas de governo não são diferentes, mas a performance dos republicanos na presidência não agradou boa parte da classe média, a chamada maioria silenciosa. Esta sabe muito bem que a decisão de quem vai governar o país não depende do voto popular, mas do colégio eleitoral. Há questões graves que implicam a manutenção da supremacia mundial que o país conquistou logo depois da Segunda Guerra mundial – e precisa ser mantida a qualquer preço.

O dólar é a moeda referência do mundo e a economia americana é a líder de negócios. Quando há qualquer ameaça nos países onde investidores têm dinheiro aplicado, eles correm para os Estados Unidos, o local considerado o mais seguro para os capitalistas. Mas é preciso avançar, concluir novos acordos internacionais e resolver o dilema se as fronteiras devem ou não ser fechadas para produtos estrangeiros mais baratos.

O candidato republicano comparece ao debate abatido. Os eleitores fazem uma rápida leitura de sua expressão gestual. Ela é tão importante quanto o conteúdo de suas respostas. Parece um velho, com roupas antigas, enfim, uma figura que não atrai, especialmente os eleitores mais jovens. Apesar de ele ser um político experiente, isso não é o bastante para um currículo. Tampouco a estratégia no debate de rotular o candidato democrata como inexperiente. A simpatia, bom humor, boas fotos espalhadas na mídia são fatores que podem pesar na hora de o eleitor escolher o futuro presidente dos Estados Unidos.

E nisso o candidato do partido democrata leva vantagem. Suas fotos sorridentes, jovens, passam uma sensação de otimismo que os eleitores esperam de um novo presidente da República. Se a estratégia vai dar certo não se sabe. O jogo é do tipo tudo ou nada. Ao partido perdedor cabe ficar na oposição por 4 anos, ou na melhor das hipóteses esperar a abertura de um processo de impeachment contra o presidente. Fato não inédito na democracia americana.

Ninguém pode imaginar que uma poderosa cadeia de comunicação vá mudar sua programação comercial para transmitir um debate entre candidatos à presidência da República dos Estados Unidos da América. O que o cidadão classe média espera, depois de guardar o carro na garagem e jantar, é assistir ao show que é campeão de audiência. A rede CBS decide bancar uma mudança na grade de programação, dada a importância da eleição para o futuro do país. Afinal, os Estados Unidos têm rivais em todo o mundo e precisam de alguém com um programa claro de governo, para onde levar o país. Ainda que o colégio eleitoral tenha a última palavra na escolha do presidente, o público é o responsável para pressionar os delegados.

O republicano Richard Nixon e o democrata John Kennedy são colocados frente a frente no estúdio diante das câmeras e de milhões de telespectadores. A eleição de 1960 tem forte apelo emocional, uma vez que, bem perto da Flórida, Fidel Castro chega ao poder em Cuba. O debate é decisivo. Nixon, que segundo as pesquisas leva alguma vantagem, vê esse quadro mudar depois do debate. Kennedy sai-se melhor, conquista a atenção e o voto dos americanos e é eleito presidente dos Estados Unidos. Tem pela frente desafios externos imensos – a disputa da hegemonia mundial com a União Soviética e a missão de impedir que o comunismo se propague na América Latina. Não termina o mandato, é assassinado em 1963.

(*) – Mestre em História pela USP e inscrito na OAB, é Âncora do Jornal Nova Brasil e colunista do R7 (ww.herodoto.com.br).