Heródoto Barbeiro (*)
Todos ficam surpresos com o decreto do governo. A mídia comunica que o presidente da república do Brasil sanciona projeto aprovado no Congresso Nacional.
A lei determina que a vacinação é obrigatória em toda a república. A vacina vai ser aplicada em todos os brasileiros a partir dos seis meses de idade, a não ser que haja uma doença pré existente. Imediatamente, os pessimistas de plantão divulgam que a lei não vai pegar. E há motivos para isso, dizem. A notícia que o medicamento tem como base o vírus da própria doença provoca o terror no meio da população.
Injetar um vírus no sangue abala até mesmo intelectuais e políticos importantes. Há argumentos científicos que atestam que há fundamentados receios que a vacina é a condutora da doença e da morte. O noticiário internacional atesta o aumento constante do número de mortes na Europa, Ásia e América do Norte. Não há para onde fugir. O vírus está em toda a parte, estampa a imprensa sensacionalista.
Além de tudo a vacina que está sendo aplicada tem origem na Europa e não em um laboratório brasileiro. Como confiar em um medicamento que é produzido por laboratórios que buscam o mercado. Afinal de contas, diz a oposição, a vida humana é uma mercadoria como outra qualquer que pode gerar lucros, ou é um compromisso ético?
O diretor geral da saúde pública não imagina que possa haver uma resistência tão grande contra a vacina e o foco principal é na própria capital do pais. Há uma desinformação geral com as mais exóticas teorias da conspiração, notícias são desmentidas em um momento republicadas logo a seguir.
Há até mesmo as interpretações exotéricas que debitam às forças do mal a doença e a vacina que ao invés de combater o transmissor , propaga com a injeção nos incautos. Líderes religiosos também entram na polêmica e debatem a obrigatoriedade da vacina com os fiéis. Aumenta a concentração e aglomeração nos tempos religiosos.
A confusão ganha as ruas da capital. Duas semanas de conflito nas ruas e embates da população contra as forças de segurança. A lei da vacina obrigatória é uma lei morta, diz o grande jurista Rui Barbosa. Ele também é contra a vacina. O responsável pela vacinação corre risco de vida.
Oswaldo Cruz tenta explicar que sem ela muita gente vai morrer. A pancadaria nas ruas do Rio de Janeiro deixa um saldo de 945 prisões, 110 feridos, 461 deportados e 30 mortos. O estrago da pandemia da varíola pelo mundo mata pelo menos 300 milhões de pessoas. O presidente Rodrigues Alves não resiste e revoga a lei.
Mas quem quiser casar, trabalhar ou estudar precisa apresentar o atestado de vacinação. Só depois de três anos e muita perseguição o vilão virou herói, Oswaldo Cruz foi homenageado na Alemanha pelo trabalho e pela coragem de enfrentar a ignorância. A população começou a procurar os postos de saúde espontaneamente.
O Águia de Haia, Rui Barbosa, de critico contundente, reconsidera o erro e reconhece que Oswaldo Cruz merece a homenagem dos brasileiros por que enfrentou os destemperos do obscurantismo popular e da oposição. Onde se encontrava o próprio Rui.
(*) – Jornalista e professor, referência no jornalismo de rádio (herodoto.com.br)