Exceção e Regra
O que se espera do comportamento de uma pessoa nesse sentido encarando o convívio coletivo? Dentro de um mundo que se diga civilizado seria que houvesse respeito e, quem sabe, solidariedade. Mas, não tem sido assim.
Andamos na contramão da boa educação social. Podemos investigar isso caminhando nas cidades, alguns sintomas e distúrbios que se manifestam. Um deles é o medo de não saber quem está ao lado. O que deveria ser o comum não é: de as pessoas se sentirem seguras. Ao contrário, se sentem inseguras e querem buscar um eixo que lhes dê uma direção, onde a exceção passa a ser a regra, e por aí a coisa vai.
Ou como quando exerço o direito de opinião. Desses choques de ideias, de quando alguém, que pensa diferente, porque me visto de maneira única ou meu penteado, minha maneira de falar indica preferência pessoal. Deveríamos perceber que não são exceções, mas de regras: da minha regra de ser.
Esse comportamento que exige respeito parece debilitado. Tanto é verdade, que na televisão campanhas visam mostrar que diferenças são regras, não exceções. Uma incursão no mundo da internet e visualizamos rostos de pessoas de diversas nações que comprovam essa tese. Somos distintos em nossas características, com dinâmicas pessoais e sociais diversas. Mas, o que nos aproxima?
O lado solidário é o que nos une, que por algum simples motivo, ao entrar em um ambiente dizemos “bom dia” ou agradecemos por algum atendimento, ao dizer “obrigado”. Porém, isso não é a regra. Passa a ser difícil também a verbalização de um simples ”por favor” ou “me dê licença”. Percebemos que pequenas convenções ficam sendo como uma exceção.
Como quando alguém encontra uma carteira no chão de um táxi e resolve devolvê-la. Irá sair na manchete no jornal.
Assim como pagar por algo que se consumiu e deixou de ser cobrado na conta. A vantagem de ter adquirido e não ter sido pago não é uma regalia, mas um benefício concedido por quem oferece o bem ou serviço. Assim, se o dono do restaurante não quiser cobrar foi dele a exceção, minha regra é pagar.
Por aí continuamos a verificar que pequenas manifestações éticas passam a ser desprezadas como sendo algo que desperta e se descontrola na desculpa de que faz parte da cultura popular. E em nome dessa deturpação de sentido, aceitamos o que seria solidário como uma exceção. Passa-se a enaltecer o esperto, o que ainda leva vantagem em tudo, que despreza o outro, frauda exame, recebe auxílio doença sem ser necessitado, e por aí a coisa vai.
Nem falar do que são as negociações nos porões das repartições que se espalham pelo Estado adentro. Aí a regra é o acordo solidário entre os cupinchas. Nada me espanta ou assusta em pensar, dentro dessa inversão de valores, que se espalha pelo tecido social, que a regra aceita é a de ser corrupto.
(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).