De tempos em tempos, surge um novo termo no mercado de trabalho, e alguns deles impactam o Compliance. Em 2023, surgiu a expressão resenteeism, ou simplesmente ressentimento. O termo é novo, mas o fenômeno é antigo: permanecer em um emprego mesmo estando infeliz com ele.
O termo é considerado sucessor do quiet quitting, movimento de pessoas, principalmente mais jovens, de se demitirem voluntariamente de empregos que não as satisfazem por diversos motivos, como excesso de trabalho e cobrança, salário insuficiente, ambiente tóxico etc.
Sabemos que nem todo mundo pode tomar essa iniciativa, e é aí que o ressentimento entra: a insatisfação acontece, mas não se larga o emprego. A solução é resolver internamente – ou conviver com o problema, a pior das situações para a pessoa e a empresa.
O funcionário ressentido não se engaja no trabalho, impactando a produtividade geral, o clima organizacional e a saúde mental de todos. Mas como o ressentimento impacta no Compliance? Ora, não é tão difícil imaginar que um ambiente de trabalho com profissionais infelizes e descomprometidos traz mais riscos à conformidade com legislação, requisitos específicos e controles internos.
O monitoramento perene que deve existir fica comprometido, pois é realizado de forma menos acurada e engajada. Os controles deixam de ser seguidos, o incentivo ao uso do Canal de Denúncias também cai – afinal, o ressentimento traz a sensação de um problema sem solução.
Todos os processos de Compliance são executados de forma mais automática e sem comprometimento, como criação de relatórios e análises de dados. É um comportamento que, aos poucos, vai contaminando os funcionários e nivela por baixo a execução das tarefas.
Toda a cultura do Compliance fica negativamente impactada, o que, por sua vez, pode levar à maior ocorrência de comportamentos eticamente inadequados. Daí para não conformidades, violações de políticas e envolvimento em fraudes é um pulo.
Por isso, é importante a empresa estar atenta ao resenteeism e encontrar caminhos para prevenir o fenômeno, começando por escutar os funcionários e criar programas que promovam um melhor ambiente de trabalho, oportunidades de crescimento, equilíbrio entre as vidas pessoal e profissional, suporte às saúdes física e mental etc.
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Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners, reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios, entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.