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Coronéis

em Colunistas, Mario Enzio
sexta-feira, 09 de dezembro de 2016

Coronéis

Conta-se que havia um tempo em terras distantes que tudo era possível se alcançar se o sujeito tivesse nascido em algum berço esplendido. Ou se tivesse a influência de algum ente poderoso. Nem cem anos atrás. Será?

Mais que isso: se essa pessoa tivesse uma personalidade forte, fosse destemida e desmedida, até poderia ser confundido com um tipo justiceiro social, moldou uma linhagem de líderes regionais. Acabavam se tornando destaque, podiam ser pessoas carismáticas, convincentes, ficavam ainda mais populares pela sua capacidade de aglutinar os mais carentes em torno de suas vontades.

Essas pessoas poderosas em demasia estão onde menos se espera: no futebol, nos sindicatos ou em áreas rurais, como nas plantações de cacau, em geral ricos fazendeiros, que não podiam nem pensar que seus interesses não fossem atendidos.

Uma viagem pela nossa história, dita que na Velha Republica (1889-1930), período que também ficou conhecido como “Coronelismo”, foi quando esses fazendeiros comandavam o cenário político do país. O país tinha uma forte dependência rural o que lhes dava esse poder. Da época, se sabia da pratica do curral eleitoral, em que os eleitores eram obrigados a votar no candidato indicado por aquele líder regional, já que como trabalhavam para ele, lhe deviam lealdade e obediência.

Como esses fazendeiros eram bem financeiramente compravam títulos militares para ampliar esses poderes. Com a Revolução de 1930, Getúlio Vargas, vem para combater esse esquema autoritário. Irá criar outro, mas isso é outro capitulo.

Algumas características dessa época foi o “clientelismo” em que essas pessoas mais pobres eram tratadas como clientes por esses coronéis. Ou, o voto de cabresto, onde candidatos eram escolhidos, e, se caso não fosse eleito, algumas represálias eram devidas àquela população. A região era construída e comandada sob total domínio político daqueles donos das terras.

Tudo era acertado antes das votações, entre os manipuladores dessa cena política, na base da troca de favores. Em outra fase, com apoio mutuo dos maiores produtores rurais, São Paulo com cafeicultores, Minas com leite e seus derivados, esse grupos se mantinham com seus candidatos locais.

O tempo vai passando, grande fluxo de pessoas das áreas rurais começa ir para as cidades, fenômeno do desenvolvimento urbano, que também ajudaria a diminuir, não em determinar o fim, dessa concentração de forças, como o controle dos eleitores. Em verdade, essa pratica de atos autoritários e violentos não acaba de imediato, mas foi sendo amenizada até lá pelos anos de 1960. E, nem por isso desapareceram do cenário nacional, tomam outras roupagens, feitios e aparências nesses jogos de interesses.

As fraudes eleitorais diminuíram, as compras de votos se tornaram instrumento mais delicado e complicado a se negociar, mas ainda surgem no cenário eleitoral. Há certa renovação política que resiste com o tempo. As chamadas heranças políticas continuam se perpetuando. Vemos que vai de avó, para pai, filho e neto. É uma vocação que rompe gerações.

E os coronéis agora vestem Prada.

(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).