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A Fábrica

em Colunistas, Sergio Valezin
quarta-feira, 22 de abril de 2015

Semana passada, no intervalo da novela, passou um trailer do novo filme do “Robocop”. Segundos depois, minha esposa fez um comentário muito estranho:

“Já imaginou se existisse uma fábrica de homens de verdade? Uma fábrica, com vários tipos e modelos de homens, que a mulher pudesse escolher? Tipo automóvel: você enjoa do marido, vai até a fábrica e troca por um novo.” – me indignei: “Você teria coragem de me trocar por um homem zero quilômetro?” – “Claro que teria. Só que com certeza, não aceitariam você como entrada; só aceitariam maridos seminovos. Seria maravilhoso chegar na concessionária e poder escolher os novos homens do ano: brancos, negros, magros, sarados, inteligentes, potentes. Diria ao vendedor: Por gentileza, quero um homem que seja asseado; que não ronque; que não seja movido a álcool, mas que venha com um dispositivo onde possa regulá-lo para ser carinhoso, atencioso e principalmente amoroso. Seria incrível poder trazer vários modelos para casa e passar a noite fazendo testes drives, antes de compra-los!” – seus olhos chegaram a brilhar.

Me senti, como um Fiat 147: completamente descartável. Fui pra cama e demorei a pegar no sono, só pensando naquilo. Foi então que sonhei que a tal fábrica, existia; mas não era de homens e sim, de mulheres! Era uma fábrica enorme, com as modelos expostas no saguão de entrada. Loiras, morenas, amarelas, mulatas. Fiquei maluco com tantos modelos. Fui logo ao vendedor:

“Amigo, me vê duas loiras, três morenas e quatro mulatas. Vou lotar minha garagem! Mas quero modelos que não falem, não pensem e não saibam usar cartão de crédito. O vendedor explicou que a fábrica era toda automatizada, e apontou uma máquina no fundo do saguão, tipo caixa eletrônico. Pediu que eu introduzisse o dedo em um buraquinho bem no centro da máquina, onde fica o leitor biométrico. O valor da compra, seria debitado automaticamente em minha conta bancária. Enfiei o dedo várias vezes para não ter erro. Depois pediu para que eu girasse os dois botões mais acima – tipo botões com segredos de cofre – cinco vezes para a direita e cinco para a esquerda, até ouvir um “clik”, onde a porta se abrirá e as mulheres sairão. Rodei os botões cinco vezes pra direita, mais cinco para a esquerda e nada de mulheres. Rodei novamente mais cinco pra direita e cinco para esquerda, e nada de mulheres.

Fiquei irritado e comecei a chacoalhar a porcaria da máquina, gritando feito um maluco: – “Eu quero minhas mulheres! Eu quero minhas mulheres!” – Foi quando acordei com um tapa na orelha, que me jogou no chão do quarto, e minha mulher gritando feito uma maluca, na minha cara: – “Olha aqui, seu palhaço! Ficar cutucando meu umbigo com o dedo; tudo bem… Me chacoalhar feito um doido; vá lá… mas da próxima vez que torcer meus mamilos, eu racho sua cabeça, com o pau de macarrão, entendeu?”

Há uma semana estou dormindo no sofá da sala, com medo de sonhar.