Gislene Leite (*)
Entre as surpresas trazidas pelo pós-pandemia, está a abertura do mercado de trabalho nos Estados Unidos aos estrangeiros, entre eles os brasileiros.
Este é um fenômeno que vem sendo observado há alguns meses, sobretudo porque muitos norte-americanos têm aproveitado o momento para realizar o sonho de empreender, ocasionando uma demanda latente por profissionais qualificados no país. Os brasileiros, por sua vez, não querem deixar passar a oportunidade de dolarizar suas receitas e enriquecer o currículo com uma experiência norte-americana.
Para se ter uma ideia da intensidade do movimento, a emissão de vistos de entrada nos Estados Unidos para brasileiros disparou em 2021, com um aumento de mais de 5000%. Em números absolutos, houve um salto de 995 vistos emitidos em janeiro de 2021 para 50794 em dezembro do mesmo ano, a partir de dados públicos do Departamento de Estado. Os vistos, nos últimos dois meses de 2021, representaram 71,83% do total de documentos expedidos no ano inteiro.
Obviamente, é preciso relacionar o crescimento com a retomada da emissão de vistos, ocorrida em novembro. Mas é sabido que há uma procura intensa por bons profissionais por parte das empresas norte-americanas, e por não conseguirem contratar mão de obra local, enxergam nos imigrantes uma possibilidade para preencher esta lacuna. Além disso, há um esforço por parte das autoridades do país para incentivar a imigração
Prova disso é que no início de fevereiro, a Câmara de Deputados aprovou um projeto que prevê a criação do visto W, uma nova categoria de entrada no país, desenhada para que empreendedores e donos e sócios de startups desenvolvam seus negócios nos Estados Unidos. O objetivo é dinamizar o ambiente de negócios do país e aumentar a competitividade com a China, contribuindo para o crescimento econômico do país.
O setor de tecnologia puxa a fila dos setores mais valorizados na terra do Tio Sam, principalmente por conta da transformação digital que vem ocorrendo no mundo inteiro – e que lá se encontra bem à frente da América Latina. De acordo com dados recentes do Bureau of Labor Statistics (BLS) dos Estados Unidos, a contratação de profissionais de TI está em ritmo recorde, com 197.000 empregos de TI a mais no ano passado em comparação com os 12 meses anteriores.
Houve um crescimento no mercado de trabalho de TI durante cada um dos últimos oito meses. Em dezembro, havia cerca de 3,8 milhões de empregos em TI nos EUA; a contratação durante o ano passado foi responsável por um dos maiores saltos ano a ano em cargos de TI, em 20 anos. E o perfil criativo e solucionador de problemas dos profissionais brasileiros agrada muito.
Além do setor de tecnologia, engenharia, aviação e saúde também estão em ascensão e com excelentes perspectivas para quem deseja internacionalizar a carreira, com destaque para psicologia e odontologia, em que se ganha em três meses de trabalho o que levaria um ano, no Brasil. Isso acontece porque lá todo o setor de saúde é privado, logo as pessoas precisam investir neste tipo de serviço, até por uma questão de necessidade.
Particularmente, a corrida para aproveitar as oportunidades abertas nos Estados Unidos surpreendeu bastante, uma vez que havia a ideia de que o brasileiro estaria descapitalizado e não conseguiria fazer um planejamento de viagem. Entretanto, muitos já vinham reservando força financeira para isso, e muitos já tinham, inclusive, entrado no pleito de visto de imigrante.
O momento para internacionalizar a carreira e dolarizar a receita é agora, sobretudo pela oferta de trabalho. Quem está disposto a ingressar no desafio deve começar já.
(*) – É diretora de operações da Xplore Group.