Carlos Titton (*)
Por muitos anos, o modelo de funcionário ideal era exercido por pessoas que se dedicavam com unhas e dentes ao seu trabalho.
Dentro das funções pré-designadas pelo cargo, esse autêntico exemplo de profissional não media esforços para desempenhar da melhor maneira as suas funções. O tempo passou e algumas coisas mudaram. É claro que qualquer líder deseja um colaborador-exemplo de dedicação na sua equipe, mas hoje em dia as exigências vão um pouco além.
A competitividade das empresas vem demandando dos profissionais um senso mais abrangente de responsabilidade, que não se limite às atribuições formais do cargo. Estou falando de gente que pensa na empresa como se fosse sua. A essa mentalidade chamamos de “senso de dono”. Explico. Imagine uma grande indústria onde alguém do departamento de vendas é considerado craque em sua área de atuação, mas que costuma ficar uma arara com o departamento de logística quando descobre que determinado produto não foi entregue dentro do prazo.
Dois andares acima, na logística, chovem reclamações contra o setor de vendas, dizendo que os prazos acordados com os clientes são inviáveis. Esse tipo de imbróglio é péssimo para os atores envolvidos e, é claro, para a empresa como um todo. Ninguém sai ganhando, muito pelo contrário. Agora voltemos ao exemplo do ás das vendas. Se ele tivesse um senso de dono, ou seja, se pensasse como alguém que deseja que o negócio flua, em vez de apenas ficar bravo, se aproximaria dos times de logística para entender seu funcionamento.
Assim, ao invés de ficar bravo com tudo, poderia propor prazos mais factíveis junto aos clientes ou talvez esclarecer melhor ao time as necessidades dos clientes buscando um consenso. Não precisa se tornar expert em uma área que não é sua. Basta abrir o diálogo, entender situações básicas para que possa buscar soluções que permitam o bom desenrolar dos andamentos do trabalho.
Como visto, é preciso ter a dor do dono, a dor de ver que o negócio não está fluindo, que a empresa está sendo prejudicada e de que é necessário buscar entendimentos para que o problema seja corrigido. Eu gosto de usar o seguinte exemplo: imagine que acionistas estão assistindo de camarote o festival de reclamações de ambos os departamentos envolvidos em conflitos. O que essas pessoas diriam diante das brigas ao notar que ninguém está tentando resolver a questão?
Então, faça o seguinte exercício: em casos como esse, feche os olhos e imagine que o dono, ou um acionista, está ao seu lado. O que você acha que ele sugeriria. Melhor ainda: se você estivesse no lugar do dono, que ação você tomaria para resolver os conflitos em prol do bem da empresa? Viu só? Você acabou de dar um passo para desenvolver o senso de dono.
É preciso ter claro que essa habilidade não é algo inato, podendo muito bem ser desenvolvida por meio de treinamentos. Nas minhas palestras, costumo trabalhar os participantes colocando-os em situações fora de sua zona de conforto, trazendo visões de diversos ângulos dos conflitos corporativos. Tratam-se de reflexões sobre o que está ocorrendo, de modo que o participante possa buscar soluções e se tornar um profissional mais completo.
O mercado agradece.
(*) – É professor nos cursos de MBA e Pós-Graduação da FAAP, Saint Paul e FIA/SP. Foi executivo de empresas como: Mercedes-Benz, DuPont, Rhodia e teve atuação internacional em países como EUA, Canadá, Alemanha, Suíça, Áustria, África do Sul e América Latina.