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Retomada segura e consciente é dever de todos

em Artigos
quinta-feira, 18 de junho de 2020

Fernando Valente Pimentel (*)

Precisamos de um plano que nos coloque em linha com nossas reais potencialidades.

O sucesso e a perenidade da retomada das atividades no Brasil dependerão da eficácia na execução de todos os protocolos de segurança necessários à prevenção do contágio pelo novo coronavírus. Se fizermos tudo certo, poderemos conciliar o atendimento à prioridade absoluta de salvar vidas com a necessária preservação e criação de empregos, recuperação de empresas e reinício de um fluxo de investimentos produtivos.

Porém, se errarmos, o retrocesso poderá ser muito grave, com a necessidade de um fechamento e quarentena ainda mais austeros e o consequente prolongamento e aprofundamento da depressão econômica.
Temos, portanto, missão crucial em meio a esta crise de saúde sem precedentes para os mais de sete bilhões de terráqueos das presentes gerações. Cumpri-la com eficiência, entretanto, não é possível de modo isolado por parte do poder público, das empresas, dos trabalhadores e da sociedade.

É preciso total sinergia entre todos. Ou seja, mais do que nunca, deve prevalecer o conceito “Nação”, que está acima do Estado e das pessoas físicas e jurídicas. Somos, literalmente, todos nós! De nada adianta ter protocolos rígidos e corretos nas empresas, fábricas, estabelecimentos públicos e comércio, se cada cidadão não tomar os devidos cuidados com o uso de máscaras, álcool em gel e equipamentos de proteção, bem como na interação familiar, social e profissional, nas compras, nos passeios e na rotina diária.

Há um “novo normal”, que implica muitas precauções, a serem mantidas enquanto não se validarem uma vacina e/ou tratamento eficaz contra a Covid-19. Reflexão importante para esse processo de coesão e responsabilidade na retomada das atividades é rever alguns equívocos que o Brasil tem cometido, que foram escancarados pela pandemia. Um exemplo é a efetividade dos investimentos públicos em áreas prioritárias, como no saneamento básico, moradias, coleta e destinação do lixo, dentre outras.

Há imensa precariedade em todos esses indicadores, dificultando planos de isolamento e distanciamento social, higiene e a execução dos protocolos de segurança. A crise atual é muito dolorosa em termos de mortalidade, saudade dos familiares e amigos, perda de empregos, fechamento de empresas, insegurança quanto ao futuro próximo e temores. Portanto, não podemos emergir deste cenário sombrio sem aprendermos as lições com os erros do País, que, a rigor, resultam de nossas escolhas como sociedade.

Agora, precisamos de um plano que nos coloque em linha com nossas reais potencialidades, dado que nossa performance tem ficado muito aquém do que podemos. Nos últimos 30 anos, nossa expansão econômica foi significativamente menor do que a média global e, principalmente, em relação aos emergentes. Segundo o Banco Mundial, de 1988 até 2018, o mundo cresceu 2,9% ao ano, enquanto o PIB brasileiro, apenas 2,3%. Quanto aos emergentes, foi acima de 5%.

Tais discrepâncias devem-se a equívocos nos caminhos pelos quais optamos, que reduziram nossa competitividade. São problemas sintetizados, dentre outras dimensões, no chamado “custo Brasil”, que, em estudo feito pelo BCG, a pedido da Sepec-ME, foi mensurado em
R$ 1,5 trilhão a mais por ano, quando comparado com a média dos países da OCDE. Também cabe avaliar e destacar que a eficácia dos serviços públicos não depende apenas de verbas, mas também da boa gestão.

Neste último aspecto, a pandemia deixou muito claro o quanto é relevante a qualidade dos serviços públicos. Deve-se enfatizar o trabalho que vem sendo realizado por todos os profissionais da saúde que atuam no âmbito do SUS, numa jornada heroica, na qual muitos deles contraíram a Covid-19, retornando à luta após a recuperação. O mesmo se aplica à Polícia Civil e à Militar e a todos os servidores que, superando as deficiências da estrutura e dos meios disponíveis, têm mostrado que o Estado é importante nas áreas inerentes à sua vocação e missões institucionais.

É hora de os governos, a partir da atuação de todos esses funcionários, reverem e corrigirem os gargalos das administrações federal, estaduais e municipais, no contexto de uma agenda mais ampla de crescimento, ancorada no tripé da sustentabilidade, ou seja, os eixos econômico, social e ambiental. A retomada consciente, segura e gradual das atividades econômicas é uma oportunidade de engatarmos a marcha para uma nova etapa do desenvolvimento de nosso país, para melhorar a qualidade de vida de nossa população. O Brasil merece!

Que esse desafio seja marcado pela solidariedade entre as pessoas, instituições, empresas e toda a sociedade, sentimento enfático no enfrentamento da Covid-19.

(*) – É presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).