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Reforma trabalhista: novas regras, antigas preocupações

em Artigos
segunda-feira, 24 de julho de 2017

Fernando Lucena (*)

O pacote com as novas regras das relações de trabalho obteve grande avanço nos últimos dias.

Muitas dúvidas ainda estão no ar, entre empregadores e empregados, mas como sempre a alternativa será ler, entender e experimentar novos caminhos nas relações profissionais. O fato é que as regras já não condiziam com o atual mercado, perfil da atual mão-de-obra e das necessidades das empresas e, assim sendo, estava (e ainda está) bastante difícil lidar com legislações tão antiquadas e não alinhadas.

Conforme o perfil do mercado, do cliente, das empresas, de seus líderes e liderados foi mudando (na verdade evoluindo), o manual de regras que rege estas relações foi ficando para trás em termos de atualização. E isso acaba por inviabilizar modelos de emprego da mão-de-obra, de oportunidades para profissionais, crescimento da economia, melhoria do atendimento às demandas dos clientes, fazendo com que custos e burocracias sejam barreiras para uma melhor produtividade e para o crescimento dos negócios.

Enquanto aguardamos os próximos capítulos, este assunto traz à tona um velho assunto: a relação de equipe e produtividade. O velho jargão diz que pessoas certas no local correto, engajadas e bem geridas, tendem a ter alta performance.
A revisão das regras trabalhistas não fará com que equipes sejam melhor selecionadas e alocadas nas suas devidas posições. Novas regras facilitam as relações e até as tornam mais justas. Mas não garantem alta performance.

Saber gerir uma equipe e obter o melhor resultado que cada um pode oferecer para o negócio, não é uma ação que dependa de sanção presidencial. O que sabemos é que é preciso selecionar talentos; desenvolvê-los e mantê-los motivados e produtivos. Entre os vários componentes da gestão de pessoas está a importância da liderança no engajamento de equipes. Estima-se que pelo menos 60% das pessoas que se desligam das empresas, se desligam, na verdade, de suas chefias.

Falta de alinhamento de propósitos, dificuldade de relacionamento, não reconhecimento de autoridade, entre outros fatores, explicam este fato.
De outro lado, a alta rotatividade de vendedores no varejo (hoje beirando números como 70%) é particularmente acelerada pela incapacidade dos profissionais de sentirem ou efetivamente serem bem-sucedidos.

Novamente, o binômio liderança e capacitação entra como protagonista neste fenômeno do chamado turn over, que tanto atrapalha estratégias de fortalecimento do relacionamento com clientes; como o nível de conhecimento das equipes sobre seus produtos, serviços ou da operação em geral.
E isso vai ao encontro da necessidade de se olhar gente como um ativo estratégico do negócio, e não apenas encará-las como mais uma linha de custos do DRE.

Não é tarefa fácil e com certeza um novo pacote de regras pode (e certamente irá) facilitar os desenhos estratégicos das empresas com seus colaboradores.
Mas o velho problema de saber trazer para a empresa as pessoas certas, colocá-las no local correto e fazer com que desempenhem da melhor forma possível, permanece como item da agenda de qualquer líder.

(*) – É sócio-diretor da GS&Friedman, especializada em desenvolvimento em gestão e talentos para os segmentos de varejo, serviços e indústria, do Grupo GS& Gouvêa de Souza (www.gsfriedman.com.br).