Clemente Ganz Lúcio (*)
O sindicalismo é uma longa construção, de mais de dois séculos, das lutas dos trabalhadores, realizadas ao longo das transformações econômicas dos sistemas produtivos, em cada contexto histórico específico.
O trabalhador saiu da condição de proletário para a de operário, durante a primeira e segunda revolução industrial; da condição de operário para o assalariamento, que se generalizou em todos os setores da economia nas últimas quatro décadas. As mudanças não param. Na verdade, ampliam-se e tornam-se cada vez mais complexas. Em cada momento, a classe trabalhadora foi se forjando nas condições oferecidas pelos sistemas produtivos e com as instituições que os Estados foram criando.
Os trabalhadores, colocados na condição de subordinação em relação ao capital/empregador, passaram a se associar – reunir forças solidariamente – para enfrentar e mudar as condições laborais, reduzir a jornada, melhorar os salários. A associação, esse compromisso selado entre companheiros e companheiras, gera uma energia política que coloca o coletivo que se associa em movimento.
As marchas, as greves e manifestações se transformaram em arte em fotografias, filmes e pinturas que registram a história e denotam o movimento. Cada trabalhador se apresenta como um novo sujeito, agora coletivo, cuja identidade é a classe, cujo interesse é de todos que, associados e reunidos, se manifestam por meio do movimento.
O movimento operário transforma a reivindicação em demanda por direito trabalhista e social, cria suas instituições para motivar os trabalhadores e coloca-los em ação, os sindicatos. O tempo fez, em alguns casos, o sindicato esquecer sua origem, o movimento! A burocratização é um mal que acompanha as instituições, inclusive os sindicatos. Mas a vida é fascinante nos encantos e tragédias. Estas, se bem compreendidas e aproveitadas, podem ser uma oportunidade rara para a renovação.
O mundo sindical tem sido desafiado, por diversos ataques e pela tragédia formada no contexto atual no Brasil, a se renovar e construir profunda reestruturação. Essa renovação sindical precisa estar sedimentada nos fundamentos que assentam a luta dos trabalhadores: a capacidade política de se associar e de gerar a energia que coloca a classe trabalhadora em movimento.
O destino do sindicalismo está nas mãos daqueles que souberem decifrar e compreender a complexidade das condições e situações do mundo do trabalho, hoje e amanhã. A partir dessa elucidação e compreensão, será possível promover a associação entre os trabalhadores e, com perspicácia, fazer do sindicato um instrumento mais do que essencial na promoção de novas manifestações do movimento de luta dos trabalhadores.
As mudanças no mundo do trabalho são intensas e enormes, mas o encanto da vida política e sindical é se colocar diante do futuro, em movimento, liberando a criatividade para formular utopias e adrenalina para lutar!
(*) – É Sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e do Grupo Reindustrialização.