Emanuel Pessoa (*)
O presidente eleito dos Estados Unidos ameaça aplicar tarifas amplas aos países do BRICS, bloco que agrega Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros, caso mantenham os planos de criar uma nova moeda ou apoiar outra que substitua o dólar.
Em outubro de 2024, o Brasil propôs que o bloco avançasse na criação de sistemas de pagamento alternativos entre seus países, visando reduzir a dependência do dólar nas transações. Em um ciclo histórico, após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos consolidaram sua liderança econômica global.
Em 1944, o Acordo de Bretton Woods estabeleceu o dólar como a principal moeda mundial, respaldada pelo ouro. Em 1971, o presidente Richard Nixon encerrou o padrão-ouro, mas o dólar continuou reinando graças ao petróleo, que seguiu sendo transacionado em dólares, originando o “petrodólar”. Hoje, mais da metade do comércio global é feito em dólares.
O dólar dá aos Estados Unidos uma vantagem imensa: eles podem imprimir sua própria moeda para pagar dívidas e financiar guerras, algo que nenhum outro país consegue. Sem essa hegemonia, os Estados Unidos não vão conseguir financiar sua dívida de mais de 30 trilhões de dólares, algo como 17 vezes o tamanho da economia brasileira.
Os países do BRICS estão se organizando para criar uma moeda própria e substituir o dólar. Se isso for para frente e a moeda pegar, seria dado um golpe fatal na economia e na influência dos Estados Unidos no mundo.
Se o dólar cair, o mundo nunca mais seria o mesmo. Mas os países do BRICS conseguem mesmo substituir o dólar? É bem difícil.
O dólar tem décadas de confiança global, e substituí-lo exige infraestrutura financeira e estabilidade política, algo que nem todos os membros do bloco possuem. Mesmo assim, essa movimentação é um sinal de que a hegemonia do dólar pode estar sendo questionada como nunca antes. E a ameaça de Trump mostra que a preocupação é real.
(*) – É advogado especializado em Direito Empresarial e Professor da China Foreign Affairs University.