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Por que reformar o Ensino Médio?

em Artigos
terça-feira, 22 de novembro de 2016

Ricardo Althoff (*)

O país precisa de mudança. Isso é um fato inegável. Nossa constituição já data de quase 30 anos, e com certeza há coisas que antes eram vistas como positivas, que hoje não o são, e que carecem de revisão.

Uma delas é a nossa educação. Apesar da maneira brusca com que foi apresentada a Medida Provisória que determina uma reforma no Ensino Médio das escolas brasileiras, particulares e privadas, essa proposta não surgiu agora. São cerca de 20 anos, desde o fim do governo FHC, em que todos os governantes de nosso país vêm tentando aplicar essas mudanças. Seu intuito é deixar o país mais próximo de modelos de sucesso, mundo a fora, especializando alunos desde cedo.

Como dito, a maneira brusca foi o que gerou tamanha comoção. A abertura para o diálogo e sugestão só veio depois. Esse foi o erro do governo. Se a apresentação tivesse sido melhor organizada, os próprios alunos, que hoje estão em ocupações, tivessem tido espaço para ajudar e serem ouvidos de forma mais eficaz, talvez nada disso acontecesse. De um modo geral, a mudança é necessária. O modo como o ensino médio vem sendo tratado nos últimos anos não segue as propostas apresentadas na nossa Lei de Diretrizes e Bases atual. Ela define o ensino médio como mais uma etapa da educação básica, e que por isso deve possuir uma característica universal.

Sendo assim, não adianta continuar descumprindo a lei, se já não se enxerga que são assim que as coisas funcionam. Há anos que o ensino médio já não é tratado dessa forma. A lei acaba tendo de se adequar à realidade. Hoje os conceitos são diferentes, o que se espera do estudante é que ele tenha mais oportunidade de galgar outros aspectos da especialização. Hoje, quem tem uma educação superior tem melhores condições de trabalho e salário do que aqueles que não têm. Não que não haja profissões que não precisam de faculdade. Elas ainda existem, mas dentro das que precisam, é interessante para todo mundo que haja profissionais mais bem treinados.

Sendo assim, o Ensino Médio se torna mais uma etapa de especialização, algo que o aluno pode dedicar à construção de sua carreira desde o início, e desde bem antes. Isso ajuda a ter uma classe mais especializada. O próprio ensino médio se torna mais uma etapa da educação que visa o profissionalismo e a vida adulta. Gostaria de citar três alterações que tem causado muita polêmica, e apresentar minha visão sobre como elas podem ser positivas, e não negativas, como se vem observando.

A primeira delas é a organização das aulas em tempo integral, de sete horas diárias. No estado atual, essa mudança levanta questões sobre infraestrutura física e pedagógica. É óbvio que mudanças terão de ser aplicadas. No que tange ao pedagógico se fará necessária uma adequação de currículo, algo que é mais simples e demanda muito menos esforço do que alterações físicas da estrutura da escola. Entretanto, essas também serão necessárias e isso dispenderá algum investimento.

Para as escolas particulares, sem dúvida, será mais simples, mas para as públicas há aqui uma oportunidade e uma necessidade que será atendida pelo governo, afinal a proposta de mudança partiu dele. Lembrando que essa é uma atribuição do governo estadual, já que quase todas as escolas públicas de Ensino Médio, tirando uma ou outra, são de gerência estadual. As escolas podem ganhar muito com isso, pois o governo, ao aplicar a MP, está se comprometendo a apresentar condições para que ela seja vigente.

A outra questão é a da retirada da obrigatoriedade do ensino de filosofia, sociologia, arte e educação física. Bem, nesse caso elas se tornaram apenas optativas, não obrigatórias. Há uma opção, uma flexibilidade, o que não as exclui em suma. Ainda haverá aulas dessas matérias nas escolas que acharem isso pertinente. Outro ponto importante é a da possibilidade de se guiar para uma área de ensino com que mais o aluno se identifique. Na verdade, isso já ocorre em muitas escolas técnicas há muitos anos. O aluno poderá guiar-se para um currículo que será mais útil e intensivo a ele, sem que as aulas básicas do período matutino deixem de ser aplicadas.

Pode haver problemas em diversos pontos dessa MP, e é por isso que o próprio governo, admitindo a maneira como a apresentou, propôs um diálogo e abriu meios de recepção de sugestões. O caso é que o ensino precisa de mudança e o país também. Não adianta ficar parado. O ideal é que se utilize todos os canais democráticos para que isso seja feito de melhor acordo com a sociedade, mas que seja feito. Há pontos a serem melhorados e há falhas, mas há também oportunidade. É preciso diálogo para que se apare as arestas.

(*) – É CEO da ‘Seu Professor Empreendedor & Negócios’ (www.seuprofessor.com.br)