Fabrizio Postiglione (*)
Mesmo sem uma regulamentação ampla e flexível, o Brasil está em um patamar de crescimento exponencial no mercado da cannabis.
A planta não é o primeiro produto a evoluir desta forma em um curto período de tempo, o setor farmacêutico e de tecnologia, por exemplo, também se desenvolveram em seus ramos de atuação rapidamente. Médicos, pacientes e população em geral estão quebrando paradigmas em relação ao seu uso medicinal.
Em 2015, o país passou a receber produtos com foco medicinal por meio da Importação Excepcional, realizada pela pessoa física para uso próprio, com prescrição de profissional legalmente habilitado e para tratamento de saúde. No ano seguinte, eram 471 pacientes e, desde então, esse número vem aumentando consideravelmente, tanto que no primeiro semestre de 2022, de acordo com dados da Anvisa, há quase 100 mil pacientes cadastrados.
Analisando esse crescimento, nós podemos compreender que é um desenvolvimento muito influenciado pelos meios de comunicação, que cada vez mais abordam a temática e quebram os paradigmas enraizados socialmente. Por isso, entendo que o acesso a conteúdos científicos forçou os profissionais da saúde a se capacitarem para atender a crescente demanda que surgiu junto a quantidade de informações sobre o assunto.
A restrita regulamentação em relação ao uso de cannabis no Brasil, de certa forma, aproximou a ciência e a medicina, que se dispuseram a entender os benefícios da planta e a procurar informações sobre o tema antes de indicá-los. Somos referência em pesquisas sobre o assunto, a USP, por exemplo, está no topo do ranking de instituições que mais produzem pesquisas sobre a cannabis.
A maioria das empresas do setor surgiu digitalmente trazendo uma nova perspectiva de tratamento, já que a cannabis é uma planta milenar que foi retomada como uma oportunidade a mais não só para a indústria farmacêutica, mas também para diversos outros segmentos. Em 2019, o Brasil tinha 200 médicos prescritores de cannabis, atualmente, são mais de 5 mil.
O aumento no número de profissionais envolvidos no tema é uma realidade que eu não vejo em alguns países mais liberais, como por exemplo a Colômbia, onde é permitido o uso de cosméticos ou fórmulas magistrais. Observo ainda que fora do país há um pouco de resistência da classe médica para entender a utilização dos medicamentos à base de cannabis, pois poucos profissionais possuem o embasamento científico necessário para prescrever produtos eficazes e de qualidade para o paciente.
O Brasil, em contraponto, passa essa segurança aos profissionais da saúde. Entendo que, se os médicos se sentem seguros, temos um caminho mais aberto para expandir o uso da cannabis em mais de 20 setores industriais, como agrícola, alimentício, têxtil, biocombustíveis, beleza, construção, entre outros. Percebo que há uma grande variedade de produtos altamente lucrativos que deixam diariamente de fomentar a economia formal brasileira.
Existe uma gama gigantesca de possibilidades para a utilização do insumo que pode abrir diversas oportunidades e transformar diferentes tipos de indústria do país e do mundo. No setor farmacêutico, por exemplo, é um universo que antes não existia. A cannabis não era um produto desconhecido, mas também não era utilizada em grande escala com um grande público de adesão e embasamento científico. Hoje, as pesquisas são cada vez mais completas e oferecem uma constante inovação para o mercado de medicamentos.
A cannabis medicinal, apesar de ser uma planta usada há milhares de anos, é um produto novo e em constante transformação. Encontrar informações de valor está se tornando cada vez mais fácil graças aos certificados, órgãos e tecnologia que auxiliam a promover qualidade de vida através da evolução da cannabis.
Além disso, a comunicação apresenta todos os conhecimentos científicos necessários para fortalecer esse mercado que tende a crescer cada vez mais.
(*) – É fundador e CEO da Remederi, farmacêutica que promove o acesso a produtos, serviços e educação sobre a cannabis medicinal (https://remederi.com/).