Tirso de Salles Meirelles (*)
Há pouco mais de 40 dias para encerrar 2020, um ano de danos, resiliência, oportunidades, aprendizagens e reconstrução.
Dizem que o brasileiro nasce otimista. Prefiro acreditar que somos realistas que enxergam as possibilidades diante da metade do copo cheio. É este movimento que estamos observando nos pequenos negócios paulistas. Pelo quarto mês consecutivo, em agosto, mais de 4 milhões de microempreendedores individuais (MEIs) e as micro e pequenas empresas registraram expansão no faturamento real sobre mês anterior, ou seja, já descontada a inflação. As micro e pequenas empresas apresentaram expansão de 11,3% no faturamento real, em agosto de 2020 sobre julho de 2020.
No mesmo período, os microempreendedores individuais registraram aumento de 1,9% no faturamento real. Também em agosto, o faturamento desses negócios foi 5,4% superior à receita apurada em fevereiro de 2020, mês imediatamente anterior ao início da pandemia, movimento puxado por outro fenômeno que não víamos desde abril: os pequenos negócios dos segmentos mais vulneráveis, aqueles que dependem mais fortemente de vendas físicas e do fluxo de pessoas, não registram queda de faturamento em agosto.
Na comparação de 12 meses (agosto/20 x agosto/19), o registro foi de -13,3%. Recuo forte, mas bem menor que o registrado em abril, quando os pequenos negócios apontaram contração de quase 44% do faturamento. Outra notícia que ajuda a ver luz no fim do túnel: empreendimentos de pequeno porte do comércio foram os primeiros a registrar resultado positivo na comparação de 12 meses, com crescimento de 4,9% na comparação com mesmo mês de 2019. Ou seja, o resultado positivo não está ‘contaminado’ com uma base de comparação afetada pela pandemia.
Os dados indicam que o tecido base do setor produtivo está em processo de recuperação, progressivo e significativo. E na esteira da retomada das atividades, vem a geração de empregos. Em agosto, cerca de 94 mil pessoas conseguiram ocupação nas micro e pequenas empresas, 1,5% a mais do nível registrado em julho de 2020, conforme projeção do Sebrae-SP. Quando se consideram sócios proprietários, familiares e terceirizados, este número sobe pra quase 150 mil pessoas.
Na comparação de agosto/20 com março/20, mês em que foi decretada a pandemia no Brasil, o aumento foi de 5,3% no número de pessoas ocupadas nos pequenos negócios, cerca de 225 mil pessoas. Vale lembrar que os pequenos negócios representam 99% do total de empreendimentos, são responsáveis por 30% do Produto Interno Bruto (PIB) e 52% dos empregos formais (com carteira assinada).
A melhora gradativa da receita impactou diretamente nas expectativas dos empresários para os próximos seis meses. Os mais pessimistas quanto à evolução da economia saíram da casa dos 54% em abril, para 11% em setembro; 42% acreditavam em melhora da economia e 41% em melhora do faturamento (em abril este índice era de 14% para as duas variáveis).
Ao analisar dados apurados na pesquisa Indicadores Sebrae-SP e fatos que vimos em nossa rede de atendimento, acreditamos que as micro e pequenas empresas encerrem 2020 com 14,5% a 15% de recuo do faturamento real. Sinal que ainda teremos muito trabalho à frente para consolidar o processo de recuperação. Os desafios para 2021 vão do enfrentamento dos efeitos de uma possível segunda onda da pandemia, ao monitoramento de perto do nível de consumo no País, tendo em vista a redução do valor das parcelas do auxílio emergencial, a partir de setembro e, mais à frente, com o fim do auxílio emergencial.
Uma coisa é certa e comprovada. Para sanar os impactos danosos da pandemia, em especial o desemprego, precisamos garantir que os pequenos negócios reforcem sua musculatura, ativando uma série de medidas que vão sustenta-los, desde o apoio para que as empresas aprimorem gestão, fluxo de caixa, digitalização de vendas, passando por políticas públicas que simplifiquem, desonerem e incentivem a permanência no mercado.
No Sebrae-SP mantemos o compromisso de continuar atuando de maneira vibrante e rápida para orientar os pequenos negócios paulistas a vencer os obstáculos e tornarem-se mais competitivos. Neste ano, até o momento, realizamos cerca de 2,5 milhões de atendimentos (maioria online) com as melhores respostas para as dúvidas e necessidades de 1,5 milhão de microempreendedores individuais, micro e pequenas empresas, do comércio, da indústria, de serviços e do agronegócio. Também fizemos uma ação junto às instituições públicas, privadas e governos para garantir que o crédito chegasse até eles.
De março a outubro, cerca de 14 mil MEIs, micro e pequenas empresas tiveram financiamento liberados via programas Juro Zero, Empreenda Rápido, Retomada e FAMPE, no montante de mais de R? 645 milhões. Porque onde tiver pessoas chegando até nós com o sonho de começar a empreender ou a melhorar sua performance, estaremos lá, construindo juntos soluções incríveis.
(*) – É Presidente do Sebrae-SP.