Antonio Tuccílio (*)
Antes de mais nada, é importante dizer que considero legítimas algumas reivindicações dos caminhoneiros autônomos.
É sabido que eles pagam muito caro pelo diesel e que, normalmente, o preço do frete é baixo. Conheço, também, as condições precárias das estradas, o que coloca esses profissionais em risco diariamente. Além disso, é de conhecimento público o alto índice de assaltos nas rodovias. Eles são profissionais desvalorizados, que pagam para trabalhar e sequer têm segurança.
Porém, não dá pra fechar os olhos para os 51 inquéritos que foram abertos para apurar um suposto locaute (quando patrões impedem trabalhadores de retomarem atividades) durante a greve dos caminhoneiros que ocorreu há alguns dias. Há denúncias de que houve pessoas infiltradas entre na greve. Houve também presidenciáveis utilizando a situação para alavancar suas campanhas.
Houve pessoas do meio político que torceram pelo agravamento da greve para prejudicar o governo atual. Houve, ainda, pessoas que se aproveitaram do que estava acontecendo para pedir intervenção militar. Considerando esses fatores, uma greve que teria uma boa razão de existir acabou desvirtuada, favorecendo uma pequena parcela e prejudicando um país inteiro.
Talvez as pessoas ainda não tenham entendido as consequências dessa greve. Isso explicaria a pesquisa publicada pelo Datafolha há alguns dias, que aponta que 87% dos entrevistados concordavam com a greve dos caminhoneiros, mas que não queriam ‘pagar a conta’.
Nós pagamos a conta quando produtos nos supermercados, quando faltou gasolina nos postos de abastecimento, quando faltaram insumos para alimentar o gado, aves, suínos e peixes, o que levou muitos animais à morte, causando pesados prejuízos aos produtores rurais.
Para piorar, o governo anunciou que para cobrir a redução do preço do diesel em R$ 0,46 precisará compensar com o aumento de tributos. A redução era uma das reivindicações dos caminhoneiros. Eles pediam também uma tabela de preços mínimos de frete, que por sua vez já é alvo de uma ação direta de inconstitucionalidade da CNA.
Independentemente se as reinvindicações são válidas ou não, considero injusto colocar esse peso nas costas do cidadão. Já sofremos as consequências durante a greve e já pagamos altos impostos em tudo que adquirimos. Inclusive, o Brasil tem uma das cargas tributárias mais altas e, apesar disso, pouco vemos de retorno.
O povo não deveria pagar pelos acordos que o governo fecha com determinada categoria, principalmente quando neste caso em que a população sequer terá algum benefício. A gasolina e o etanol que usamos em nossos carros, por exemplo, não terão uma baixa nos valores do litro.
Ter que pagar mais impostos pra suprir uma baixa no valor do diesel é inaceitável.
(*) – É presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos (CNSP).