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Os últimos dias de Pompeia

em Artigos
quarta-feira, 04 de julho de 2018

Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)

A vida segue tão agitada que muitas pessoas sentem como se estivessem próximas aos últimos dias de Pompeia, cidade devorada pelo terremoto e atividade vulcânica.

Tal sensação nem sempre chega a ser plenamente consciente, mas nem por isso menos inquietante. São as condições gerais de vida que se vão estreitando pelo mundo afora. O ser humano enveredou por tantos artificialismos que acabou saindo da naturalidade, passando a nutrir monstros perigosos através de suas atividades agrilhoadas ao mundo material e seu ídolo, o dinheiro.

Agindo de forma unilateral sem deixar espaço para nada mais, os sentimentos de generosidade são desarticulados, fragilizando a própria alma que, naturalmente, mantém o impulso para o enobrecimento se não for silenciada pelos monstros que agora passam a fazer exigências de sacrifícios no altar da ambição e da cobiça por dinheiro.

Basta ter, ninguém precisa ser, porque o dinheiro tudo pode. E, com raras exceções, quanto mais acumulam, mais inquietas, descontentes e prepotentes as pessoas se tornam. Apesar disso, permanecem sem perceber que só com dinheiro não conseguem alcançar a felicidade, então se lançam na busca de mais do mesmo. A economia vai se ajustando aos interesses.

A produção de bens vai sendo transferida para regiões onde a mão de obra é menos custosa, lá se concentrando e obtendo redução pela maior quantidade produzida, e também por automatização dos processos gerando várias consequências. Os preços se reduzem, acarretando desindustrialização, desemprego e desequilíbrio no balanço de pagamentos nos países em que o montante de exportações é insuficiente para os compromissos em dólares, como importações, serviços, remessa de lucros e juros.

A globalização financeira, econômica, comercial e cultural, estruturou a dolarização da economia, produzindo o mundo atual com estadistas corruptos, declínio da educação e da qualidade humana, e precarização geral. Em vez da diversidade, forçou-se a uniformidade. As alterações e mudanças surgiram no centro desenvolvido afetando os países da periferia que não conseguem dólares suficientes, ficando sujeitos às instabilidades cambiais e suas consequências nefastas.

Dois países poderiam entrar em acordos econômicos e culturais tendo o equilíbrio como norma, cada país zelando pelos interesses de sua população para não caírem na pilhagem no toma cá, dá lá. Mas isso é pouco praticado. Com o passar do tempo, surgiram efeitos não desejados. O presidente Trump, com suas decisões atabalhoadas, encarna a mudança das mudanças que visam reverter a eventual perda de poder econômico. Uma questão muito preocupante que pode ser uma tentativa já tarde demais e, por isso, seu impacto é surpreendente e o caos crescente.

Em meio à aspereza, poucos se ocupam em fazer indagações sobre o futuro da própria alma que vivifica o corpo, deixando de se esforçar para pressentir o grande futuro que aguarda o ser humano que se dedica à descoberta do significado da vida. Em sua existência, há pouca coisa para ser lembrada como feito realmente importante e benéfico para o aprimoramento geral.

Há muitas teorias confusas, religiosas, políticas, econômicas e da cultura do prazer, todas de pouco valor que em nada contribuem para a melhora geral. Há muitos costumes nocivos que degradam o homem e raros momentos de coesão num sentimento de gratidão. Ao atravessar pelo tempo nas várias fases das vidas, da infância à velhice, o corpo vai cumprindo a sua tarefa, permitindo o aprendizado para que a alma possa ingressar na nova vida do novo mundo fundado na naturalidade e no equilíbrio das leis cósmicas que regem o universo.

A ausência disso está conduzindo a humanidade ao descalabro, ao caos mental e intelectual, em vez do continuado aprimoramento como era esperado. Não é à toa que nas mentes estressadas ressurja a imagem dos últimos dias de Pompeia com seu trágico destino.

(*) – Graduado pela FEA/USP, coordena os sites (www.library.com.br) e (www.vidaeaprendizado.com.br). Autor de: Nola – o manuscrito que abalou o mundo; 2012…e depois?; Desenvolvimento Humano; O Homem Sábio e os Jovens, entre outros. E-mail: ([email protected]).