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O respeito na política

em Artigos
sexta-feira, 15 de março de 2019

Gilson Alberto Novaes (*)

Tenho assistido com preocupação esse início de governo do presidente Bolsonaro.

Eleito que foi, democraticamente, sem contar com a grande mídia, sem partidos fortes, sem militância, derrotou a todos e tornou-se a esperança de grande parte dos brasileiros em melhorar a vida do país. Por certo, os quase trinta anos que o presidente passou na Câmara devem ter lhe dado experiência suficiente para que saiba que na política há que haver respeito.

Ele mesmo já se envolveu em vários episódios no calor do debate no plenário da Câmara, que só não lhe trouxeram maiores problemas pela imunidade que tem. Quando digo respeito, não é só no aspecto dos poderes constituídos, o que ultimamente também não vem tendo, nem tampouco aos partidos, mas refiro-me às pessoas.

O presidente no exercício do cargo ainda não deu nenhuma cotovelada em ninguém nesse sentido, mas seus filhos, que também foram eleitos democraticamente, acham-se no direito de dizer o que pensam a torto e a direito. Não diriam se não fossem filhos do presidente, como se isso bastasse. Estão “valentes” demais…

Passam dos limites! Deviam perceber que não são, perante a opinião pública, um senador, um deputado federal ou vereador qualquer. São filhos do Presidente da República e suas ações refletem diretamente na imagem do presidente e, por conseguinte, no seu governo.

Uma pena para o país, pois há uma verdadeira inversão de valores. Ao invés do povo estar preocupado com temas que nos afetam diretamente, ficamos nos ocupando com bobagens ditas por esses coadjuvantes, sejam seus filhos, ou seus ministros. A orquestra precisa estar afinada. Não parece que esteja. Debater politicamente, divergir ideologicamente e não concordar com o ponto de vista do outro é perfeitamente natural na vida pública, mas estão indo para o lado pessoal e isso é perigoso.

Miram-se no pai, que sem papas na língua, se deu bem na carreira, surpreendendo até eles mesmos e chegando à Presidência da República. Atrevo-me a dizer que Bolsonaro estava no lugar certo, na hora certa, da forma certa, com o discurso certo. Falou o que o povo queria ouvir e que os outros não tiveram coragem de dizer. Por isso foi eleito. Ganhou a eleição. Agora, desmonta-se o palanque e vamos trabalhar. O Vice-Presidente, General Mourão já disse que o presidente “vai botar ordem na rapaziada dele”.

Dizem que o Brasil só começa a trabalhar depois do carnaval. Vamos ver. Esses dois meses de governo foram interrompidos pela internação do presidente o que resultou num hiato e muitas coisas aconteceram nesse período. O governo precisa de menos conversa e mais trabalho e lembrar que a campanha acabou. Ficar “cutucando a onça com vara curta” e dando munição para a oposição, pode ser trágico para o país.

A eleição acabou. Precisa avisar os filhos do presidente. Ficar usando as redes sociais agora, como na campanha, pode ser letal. Na campanha deu certo. Agora, pode não dar. Pelo contrário: o tiro pode sair pela culatra.

Não estão percebendo isso!

(*) – É Professor de Direito Eleitoral no Curso de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas, onde é Diretor do Centro de Ciências e Tecnologia.