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O poder da tecnologia na economia pós-corona

em Artigos
segunda-feira, 11 de maio de 2020

Celso Kleber (*) e Marcello Beltrand (**)

Há uma curiosa expressão popular: ‘no news, good news’, conhecida no meio jornalístico, como “a falta de notícias é um bom sinal”.

Talvez esse ditado nunca tenha sido tão atual e verdadeiro como nos dias de hoje. Sobram notícias ruins. E uma das mais duras delas tem feito a manchete em todos os sites de negócios e noticiários. Trata-se do ajuste que o governo brasileiro fez sobre a previsão do PIB em 2020, que despencará de 2,1% para zero. Já o Banco Mundial projeta retração de 5% da nossa economia. Tudo fruto do impacto da síndrome do coronavírus no setor produtivo, centro gerador da riqueza, emprego e renda.

Espera-se que o Ministério da Economia enxergue o melhor caminho. Os desafios da macro e micro economia serão imensos. E os empresários brasileiros, aqueles com gordura adquirida ao longo do tempo, serão chamados a participar desse esforço de retomada. Enquanto isso, nos cabe, como profissionais de estratégia e direção, iluminar o caminho para o protagonismo do setor privado nessa crise.

Ao contrário de outras crises, nesta as empresas privadas devem estar prontas para alavancar o crescimento da economia. Alguns fatos sustentam essa afirmação. Se o governo souber precisar a dose dos incentivos aos empresários, o emprego tende a retomar mais rapidamente e as empresas poderão investir em eficiência e escala tão logo a poeira abaixe. As companhias mais aptas – aquelas que estiverem preparadas para encontrar boas soluções neste período – vão aproveitar melhor o novo momento.

Logo, uma das ferramentas essenciais nessa jornada de recuperação será a tecnologia da informação, cujo potencial de transformação das empresas é imenso, seja revitalizando os sistemas legados ou com soluções disruptivas que tragam eficiência, vendas e melhor experiência para o cliente. Os últimos anos exigiram do setor de TI muita energia.

Entender o comportamento do consumidor, ainda mais mutante e exigente, digital e sedento por agilidade é vital. As empresas que proverem produtos e serviços, no canal adequado e com o preço justo, vão se destacar quando a crise passar. Talvez seja o kit de sobrevivência pós-crise. Mas ainda há um poderoso gargalo nesse enredo. O mercado de TI enfrenta histórica carência de talentos.

O Brasil, por exemplo, forma 10 advogados para cada engenheiro ao ano. Neste ponto, até a quarentena pode trazer oportunidades. Instituições, Sistema S e escolas técnicas, por exemplo, estão disponibilizando gratuitamente cursos e capacitação a distância que podem preparar melhor os atuais candidatos ou possibilitar novos entrantes no setor.

Enfim, a equação é complexa: além de coragem e fé é preciso medidas governamentais, gestão da escassez e planejamento. Afinal, como disse o lendário jazzista e pianista Duke Ellington, “os problemas são oportunidades para se mostrar o que sabe”.

(*) – É Diretor Executivo da Qintess; (**) – É Mestre em Administração e consultor em Planejamento.