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O discurso que permeia as relações

em Artigos
quinta-feira, 10 de março de 2022

Maria Antonia Novicov de Andrade (*)

Dois personagens bíblicos me chamam a atenção para o assunto que vou discorrer.

O primeiro é José do Egito, filho de Jacó, predileto do seu pai. José tinha a habilidade de interpretar sonhos, despertando ciúmes dos irmãos, que acabaram por vendê-lo como escravo e, assim, ele foi servir na casa de Potifar. Mais tarde, devido sua habilidade e sabedoria concedida por Deus, ele se tornou governador do Egito.

O segundo é Davi, filho mais novo de Jessé, pastor de ovelhas. Dentre as suas habilidades, a persistência era notória. Mesmo desacreditado pela família, enfrentou leões e o gigante Golias, além de ter sido ungido pelo profeta Samuel para ser rei de Israel. Diante dos dois personagens, pergunto: Como olhamos para os nossos filhos? O olhar é de quem acredita em suas habilidades e potencialidades ou só olhamos para suas dificuldades?

Observamos que o conceito que possuímos sobre as pessoas com as quais nos relacionamos define o nosso olhar como positivo e encorajador ou de descrédito e limitante. Assim, quando em qualquer relação o indivíduo possui uma visão negativa do seu interlocutor, mesmo que a mensagem seja explícita, a linguagem não verbal o denunciará. Portanto, a relação fica permeada de duplo sentido, ou seja, afirmo verbalmente, porém, condeno com o olhar e atitudes inconscientes.

Exemplo: quando acredito que: “ele não é capaz, é indefeso, é disperso, tem dificuldade mesmo de aprender”, e, no entanto, digo: “você consegue, vai dar certo, preste atenção, se organize”, a comunicação está permeada de ruídos que prejudicará o desenvolvimento de todos os participantes dessa relação — emissor e receptor. Outra maneira comum e prejudicial é a comparação entre irmãos, primos, colegas e outras pessoas.

Dependendo da dificuldade que o ouvinte está passando, essa forma será desestimuladora e limitadora. A comparação mexe com a autoestima de forma não sadia, pois acaba transparecendo que os demais possuem capacidades que este jamais terá. Aumentar o volume de voz, desqualificar, culpar e/ou ameaçar não edificam quem precisa superar suas dificuldades.

Como podemos aplicar um discurso estimulador e desafiador nas relações? Estar ao lado com empatia, ter companheirismo, traçar metas tangíveis, apoiar os processos de mudanças com apresentação de fatos concretos que promovam o desenvolvimento. Desta forma, estimula-se a iniciativa, o empoderamento de suas potencialidades e habilidades, dotando-o de autoridade sobre os seus comportamentos e gerindo de forma sadia as suas relações.

Voltando aos nossos personagens bíblicos, fazendo uma analogia com as nossas vidas. Tanto José quanto Davi mantiveram-se confiantes em suas habilidades natas, enfrentando as dificuldades com persistência e determinação, ultrapassando os pensamentos limitadores com os quais foram julgados. Para isso, contavam com a confiança de Deus em suas vidas.

Hoje podemos melhorar as relações com todos que estão a nossa volta, os questionamentos estão lançados: a comunicação está alinhada de forma a encorajar o ouvinte? As falas estão realmente sendo gentis e acolhedoras? Há o reconhecimento das potencialidades do interlocutor? O amor e a atenção são declarados em suas relações? Qual o tipo de discurso é aplicado nos relacionamentos, o motivador ou limitador?

As reflexões permitem importantes transformações nos conceitos pessoais, ocasionando uma visão mais clara dos propósitos, principalmente com os filhos, pois queremos o melhor para quem está ao nosso lado. Ter a convicção que todos conseguem progredir, dar o seu melhor, superar as dificuldades e desafios da vida, faz a diferença.

O pensar, o agir e o falar de forma coerentes com o propósito são de extrema importância para manter a eficácia da comunicação, despertando o desenvolvimento pessoal de todos os envolvidos nas relações. Assim, todos seguirão honrando os princípios familiares e de Deus, transformando vidas.

(*) – É orientadora educacional do Colégio Presbiteriano Mackenzie Tamboré Internacional.