Antonio Cabrera (*)
“É tão fácil estar errado —e persistir em estar errado— quando os custos de estar errado são pagos por outros”´- Thomas Sowell
Imagine um cozinheiro que fez um bolo com uma certa receita e todos que comeram adoeceram depois. Imagine que ele repete a receita e todos novamente passam muito mal. O mais lógico seria este padeiro jogar a receita fora e não mais utilizá-la.
Infelizmente este é o caminho da receita errada que estamos tomando na solução desta pandemia, implementando uma verdadeira socialização da nossa economia. Estamos abrindo mão de nossos direitos, bovinamente, acreditando que os políticos podem gerir melhor uma crise do que aqueles que produzem.
Dentre as funções essenciais do Estado está a proteção da vida e da liberdade, mas é impressionante o que o medo faz: durante a pandemia do coronavírus ninguém tem protestado, nem mesmo a imprensa, sobre a nossa impressionante quebra de direitos pelo Estado.
Se o governo já é a instituição mais poderosa e sempre presente em nossas vidas —influenciando quase tudo em nosso dia a dia—, temos que entender que a preservação da vida deve incluir a preservação da liberdade. A liberdade não pode ser uma proposta apenas para os bons tempos. Isso é uma ilusão gigantesca já provada pela história. Todo dia lemos que dívidas públicas são prorrogadas, confiscos estão sendo executados, e, pasmem, aumento de impostos já caminham pelo Congresso. Pior, até estatizações já são autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal.
Acreditar que o endividamento do governo aumenta a riqueza é acreditar que burocratas assalariados são gastadores mais sábios do que donos de dinheiro. Ora, precisamos relembrar que o governo não pode fazer crescer uma economia e muito menos gerar riqueza. Este é o papel do setor privado, onde um aumento nos gastos do governo significa o enfraquecimento dos geradores de riqueza.
Convém trazer à tona que não estaremos entrando em uma recessão, mas sim em uma crise econômica sem precedentes, criada por imposição do próprio Estado com o desligamento da economia. Se o Estado é o causador, o mínimo que se espera é um alivio tributário sobre aqueles que produzem, mas com exceção do governo federal, nada se verifica nos níveis estaduais e municipais.
Estamos deslizando para uma farra de gastos fiscais em altíssima velocidade. Mas não se esqueçam, déficits e endividamento governamentais são também uma questão moral crucial para a vida de cada brasileiro. O governo deveria liberar os recursos necessários para os vulneráveis, para preservação do emprego e empresários, através de severos cortes em seus gastos. Não há uma única sinalização de corte de despesas em nenhum dos poderes públicos, mas apenas aquilo que sempre assistimos: o aumento das despesas públicas.
Estamos repetindo a receita catastrófica da estatização da vida produtiva. Tenho sérias preocupações que, uma vez que o Estado tenha expandido seu poder, sua expansão não será revertida. Quando esta crise acabar, precisaremos renovar a luta pela liberdade. Caso contrário, tenham a certeza de que a “cura” do governo para esta pandemia será muito pior do que a própria doença.
(*) – É veterinário, empresário e ex-ministro da Agricultura (1990-1992, governo Collor).