Lígia Marta Mackey (*)
A tecnologia tem mudado a forma de se fazer Engenharia e, embora este seja um desafio, ainda bem. O mundo precisa construir uma nova economia e isso inclui, necessariamente, transformações. Uma das vantagens de atuar no mercado de construção civil há mais de 30 anos, é acompanhar este processo de perto. Falar em sustentabilidade, por exemplo, não é mais opcional, é imperativo.
A construção civil é uma área que produz muitos resíduos e tem um consumo considerável de energia, por exemplo. Felizmente, a cada dia surgem novas soluções que ajudam o setor a diminuir seu impacto. Estar aberto a elas significa não apenas fazer a sua parte para lidar com a emergência climática ou atender a consumidores cada vez mais preocupados com a questão, mas também reduzir gastos.
Apesar de, frequentemente, ser necessário um investimento inicial em novas tecnologias, aderir a elas ajuda a otimizar processos e a economizar no longo prazo. Isso sem falar que os governos costumam dar incentivos fiscais e financiamentos especiais para projetos sustentáveis, a exemplo do IPTU Verde, que traz descontos no imposto a obras que implementam sistemas ecoeficientes em vários municípios.
Segundo o United States Green Building Council (USGBC), o Brasil é o quinto com mais construções sustentáveis no mundo em uma lista de 180 países. Utilizar técnicas ou materiais ecológicos é uma das formas de fazer isso, para que uma obra seja, de fato, considerada sustentável, é preciso muito mais. Eficiência energética e gestão de resíduos, por exemplo, fazem parte do combo.
Vale citar aqui o BIM (Building Information Modeling – Modelagem da Informação da Construção, em português), uma metodologia que utiliza um conjunto de softwares e ferramentas que integram projetos em diversas etapas da construção civil e, assim, tornar as obras mais rápidas, baratas e sustentáveis. Isso é possível porque, com uma melhor visualização dos projetos, a solução permite diminuir o desperdício de materiais e o gasto de energia, por exemplo.
Obras feitas com o BIM costumam custar até 20% menos, além de serem concluídas com mais agilidade. Também é importante estarmos atentos ao assunto do momento: a Inteligência Artificial (IA). A construção civil já está sendo impactada por soluções que vem da área. O próprio BIM, que acabei de citar, está ligado a ela.
O que a IA tem feito é, basicamente, otimizar o trabalho dos profissionais da área tecnológica, ajudando-os a ficarem menos sobrecarregados com demandas manuais, possibilitando que eles possam pensar em melhorias para fazer mais e melhor. Não acredito que a IA vai fazer as pessoas perderem seus empregos. O trabalho do engenheiro civil vai continuar sendo crucial para a segurança de todo tipo de edificação.
As máquinas precisam ser supervisionadas. Afinal, se um prédio ou uma ponte colapsar, quem vai ser responsabilizado? É claro que para usar bem tanta novidade, precisamos entender como elas funcionam e a capacitação é essencial. O mercado vai sim exigir que as pessoas saibam trabalhar com a tecnologia e quem não se adaptar vai ficar para trás.
(*) – É engenheira civil e presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP).