Marco Haidar Michaluate (*)
Muito se ouve e se fala sobre as startups unicórnios como cases de sucesso no mundo dos negócios.
Na mitologia, unicórnios são animais mágicos e raros. Trazendo para o mercado de startups, trata-se de empresas que tiveram um grande aporte financeiro – geralmente de anjos investidores – para pôr em prática soluções e tecnologias inovadoras. A questão é que esse sucesso custa caro, justamente porque não é possível alcançá-lo sem os altos investimentos, muitas vezes intangíveis por muitas startups com potencial.
Por isso, o significado de sucesso transcende ao conceito de crescimento acelerado quando analisado de outro ângulo. Nesse sentido, o modelo de negócio pode mirar em um animal muito mais resiliente e realista para definir o posicionamento da startup: os camelos. Startups camelos são empresas que não receberam investimento e cresceram com o capital inicial investido.
Mas mais importante que isso: conforme vão fechando novos clientes e tendo alguma forma de remuneração, cresceram com esse capital. Muito diferente dos modelos unicórnios, que recebem um grande aporte e saem gastando. Essas empresas – assim como esses animais que vagam por dias pelo deserto sem alimento ou água e conseguem dar impulsos com velocidade quando necessário – têm muito mais resiliência.
Além disso, é possível dar sprints, garantindo resistência e constância muito maiores que um unicórnio. A tendência das startups camelos é gastar de maneira mais sincronizada com a curva de crescimento. Para se manter nesse ritmo de sucesso, três pontos são fundamentalmente estratégicos para uma startup camelo.
O primeiro é saber quando acelerar.
Dar o sprint necessário no momento certo é uma das estratégias dos camelos assim como deve ser de uma empresa que está focada no seu crescimento rápido, mas principalmente sustentável. Estar atento às oscilações e tendências do mercado, da sua concorrência e da sua capacidade interna são os sinais que podem apontar para o momento ideal pra essa aceleração.
O segundo ponto é algo que parece simples e óbvio de se dizer, mas que traz uma complexidade maior quando se fala em resiliência: manter a alta qualidade mesmo nos períodos de crescimento. A qualidade é um dos tripés que irão sustentar e dar capacidade para continuar crescendo.
O terceiro, porém não menos importante (embora muitos não deem valor a isso), é o de não perder a qualidade no pós-atendimento ou no pós-venda. Muito mais caro do que conquistar novos clientes é o esforço que precisa ser desembolsado para reconquistar a confiança de um cliente insatisfeito. Crescimento sustentável e constante não pode ser atingido com a perda de estímulo de um cliente em continuar consumindo e indicando seu serviço ou produto para outros.
A capacidade de uma empresa em manter o padrão de qualidade no pós-atendimentos aos clientes é diretamente proporcional ao seu potencial de crescimento. Mais do que isso, é também uma maneira de captar os sinais para o momento certo de acelerar.
Por mais desafiadores que sejam os cenários de um lugar inóspito e difícil de se enfrentar como o deserto, um camelo sabe, por cada célula que compõe o seu corpo, por onde e como ele pode atravessar e continuar sobrevivendo ali. Empresas com esse espírito também saberão persistir crescendo diante de um mercado tão dinâmico.
(*) – É CEO da New Value, plataforma de benefícios exclusivos para colaboradores (www.newvalue.com.br).