Pâmela Rosa (*)
Comecei na publicidade cedo, antes de completar 17 anos, e talvez a ingenuidade da idade não tenha me feito perceber o quanto o machismo que existia na sociedade também estava presente na carreira.
Ser mulher ainda não é fácil. Por inúmeros fatores que posso dissertar. Mas, para mim, sempre foi um pouco menos difícil pelas sequências de privilégios que me trouxeram até aqui. Privilégio por ser uma mulher branca. Privilégio por ser filha de uma mãe forte e irmã de mais três mulheres que batalharam suas independências financeira e intelectual desde cedo.
Privilégio por ter iniciado minha carreia em uma empresa comandada por mulheres. Privilégio por, hoje, ser dona de uma agência composta, em sua maior parte, por mulheres, tanto na sociedade como na equipe. Privilégio por comandar uma empresa que não tolera qualquer tipo de discriminação.
Mas, não posso fechar os olhos para a realidade do meu ramo de atuação. Na linha de frente da publicidade, a objetificação da mulher é, ainda, algo atrelado à história dela, o que, por meio de muita luta, estamos conseguindo dar alguns passos nos últimos tempos em direção à mudança. Da porta para fora, a publicidade já não suporta algumas intolerâncias.
Mas nem sempre é igual nos bastidores. Já ouvi histórias de colegas que foram colocadas em situações de fragilidade. Mulheres que foram assediadas verbalmente tentando fazer seu trabalho. Mulheres que não foram escutadas, apenas pelo fato de serem mulheres. Sobre essa última, não foram apenas histórias. Também senti na pele e sei que muitas outras mulheres também. Quantas vezes me senti menos escutada quando colocava meu ponto de vista em uma reunião. Mal entendia o porquê.
E nesses momentos vivi a maior crueldade do machismo: duvidarmos da nossa capacidade. Quantas vezes, nós mulheres, fomos reprimidas e a primeira pergunta que veio à nossa cabeça foi: “O que eu fiz de errado?”. Acho que nós já estamos acostumadas com a culpa e nossa primeira reação é abraçá-la. A crueldade, na maioria dos casos, não é nossa. Mas como reagimos?
Fazendo mais, fazendo o dobro. Nos cobramos para sermos ainda melhores e nos culpamos por não sermos escutadas com o mesmo peso de uma mesma mensagem em uma voz masculina. Mas essa culpa não nos pertence. Precisamos, mais uma vez, achar forças e mudar como reagimos a esses momentos. Não podemos internalizar a culpa quando a única culpada é, na verdade, uma sociedade machista que ainda não está pronta para nos escutar.
Não podemos nos calar por nos sentirmos menos ouvidas. Temos que reagir ao machismo com mais palavras ditas e apoiar umas às outras para sermos escutadas. Eu acredito que temos muito a falar e não podemos nos abafar por quem não tem a tolerância de escutar.
(*) – Mestre em design pelo PGDesign-UFRGS, com graduação em Design pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), é sócia da agência Batuca (www.agenciabatuca.com.br).