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Mercado financeiro: a importância de integrar ESG à análise financeira

em Artigos
quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Itali Collini (*)

Ano passado o Elon Musk disse “ESG is a scam” (ESG é uma farsa, em tradução livre) quando a Tesla foi removida do S&P 500 ESG index, índice da S&P Global que lista empresas que se destacam em questões ambientais, sociais e de governança (ESG), de acordo com a metodologia própria da agência de rating. De lá para cá, tenho visto cada vez mais analistas e supostos especialistas em investimento abraçando uma agenda anti-ESG.

Parte deles, porque conseguiram ideologizar um debate que deveria estar tanto no campo da esquerda quanto da direita, pois é transversal aos problemas sociais, econômicos e políticos. O ponto é que incluir variáveis ESG em análises de investimento e ratings de ativos é uma atividade historicamente nova. O termo ESG e a exigência de incorporação de critérios ESG na análise de ativos só apareceu pela primeira vez em 2006 no Principles for Responsible Investment (PRI) da United Nations.

Isso significa que faz apenas 17 anos na história que o mercado financeiro se movimenta pró ativamente para criar metodologias e abordagens de análise ESG. Para se ter uma ideia do ciclo de amadurecimento de práticas de mercado, a contabilidade financeira por exemplo já era feita há séculos quando Francesco Villa decidiu publicar na Itália “La Contabilità Applicatta alle Amministrazioni Private e Pubbliche”, em 1840, trazendo o método de partidas dobradas.

Levou 133 anos depois disso para ser criado o International Accounting Standards – IAS, em 1973, responsável pelo processo de internacionalização das normas contabilísticas. Mais 28 anos se passaram até a transformação do IAS em IFRS – International Financial Reporting Standards, em português Normas Internacionais de Contabilidade. Quem atua no mercado hoje quase não se lembra mais como era pesquisar e comparar informações financeiras das empresas antes de uma padronização internacional adotada pela maior parte dos players.

Minha visão é que estamos nessa era pré padronização com o ESG. Não se trata de uma farsa, ou um golpe, mas sim de uma integração de externalidades à análise financeira que ainda vai levar tempo para amadurecer em um padrão internacional auditável e adotado por todos os agentes de mercado. Quer dizer, não é porque não tinha IFRS em 2000 que a gente podia falar que os esforços de algumas instituições em comparar empresas e criar métricas de mercado era uma farsa.

Do mesmo jeito, agora nós temos um campo em pleno desenvolvimento e essencial para o mercado mapear o que vai além de receita e custos para incorporar o que afeta o planeta e sua manutenção. Barrar essa transformação porque você não entende, não se interessa ou tem algum ativo seu individualmente prejudicado é nadar contra uma corrente muito maior que você.

(*) – É economista, Investidora Anjo e diretora da Potencia Ventures (http://www.potenciaventures.net).