Hugo Garbe (*)
A criação de mais de 201 mil vagas de trabalho com carteira assinada em junho surpreendeu positivamente o mercado, superando todas as expectativas e se tornando um dos principais assuntos da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Esse resultado, divulgado pelo Caged, foi o melhor para o mês de junho desde 2022, bem acima das previsões que esperavam cerca de 165 mil novas vagas.
O forte desempenho mostra a resiliência da economia brasileira em um cenário global desafiador. A abertura de novas vagas em diversos setores indica uma recuperação econômica pós-pandemia, impulsionada pela demanda reprimida e pela retomada gradual das atividades. Setores como serviços, comércio e construção civil lideraram a criação de novos postos, refletindo uma maior confiança empresarial e um aumento no consumo das famílias.
No entanto, o cenário de forte geração de empregos também traz desafios. A principal preocupação é o impacto desse crescimento na inflação. A criação expressiva de vagas pode pressionar a demanda e, consequentemente, os preços, especialmente em um momento em que as expectativas inflacionárias já estão se deteriorando.
As incertezas fiscais, sobretudo em relação ao cumprimento das novas regras fiscais, adicionam mais complexidade à análise.
Essa contínua deterioração das expectativas inflacionárias, exacerbada pelas incertezas fiscais, colocou uma pressão adicional sobre o Copom, que precisou equilibrar a contenção da inflação com a manutenção do crescimento econômico.
O desempenho robusto do mercado de trabalho é um sinal positivo, mas também requer uma resposta cuidadosa da política monetária para garantir que os ganhos não resultem em pressões inflacionárias descontroladas.
Enquanto o resultado celebra a recuperação do emprego, também reforça a necessidade de políticas econômicas bem planejadas. O equilíbrio entre estimular a economia e controlar a inflação será crucial para manter uma trajetória de crescimento sustentável.
O recorde na criação de empregos em junho é um marco importante para a economia brasileira, refletindo uma recuperação robusta e maior confiança nos setores produtivos. No entanto, a sustentabilidade desse crescimento requer atenção cuidadosa às políticas fiscais e monetárias para garantir que os avanços no emprego não sejam acompanhados de desafios inflacionários que possam comprometer o futuro econômico do país.
(*) – É professor de Ciências Econômicas do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.