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Menos ativos, mais eficiência

em Artigos
sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Sérgio Lopes Cabral (*)

No cenário atual, em que a palavra de ordem é eficiência, o papel do Estado na economia vem sendo questionado com mais vigor. Não que essa seja uma discussão nova, longe disso. Mas à medida que governos se veem pressionados a fazer mais com menos, a questão sobre quais ativos realmente pertencem ao portfólio público ganha relevância.

O Brasil, ao longo de sua história, experimentou os desafios de ter o Estado atuando como empresário. Um gigante com a melhor das intenções, mas pés de barro. A falta de expertise específica dos gestores públicos, combinada com a rigidez da burocracia, frequentemente transformou boas ideias em pesadelos de ineficiência e desperdício de recursos públicos. O cenário internacional também tem destacado essa realidade.

Durante o World Economic Forum (WEF), em janeiro, economistas renomados globalmente destacaram que, em tempos de fragmentação geoeconômica e incertezas políticas, o foco nas funções essenciais não é uma escolha — é uma imposição. O setor privado, com sua agilidade e capacidade de adaptação, torna-se o parceiro natural para áreas não estratégicas.

Atenta a esse contexto mundial, a partir de 2019, a Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge) decidiu reavaliar sua carteira de ativos, guiada pelo princípio do essencialismo. A ideia era clara: identificar quais ativos, embora valiosos, não estavam mais alinhados à missão central de promover o desenvolvimento socioeconômico sustentável em Minas Gerais. O resultado dessa mudança de rota foi significativo.

Em vez de continuar segurando ativos, a Codemge decidiu desinvestir em áreas que não são mais estratégicas, aliviando a carga fiscal e redirecionando os recursos. Até agora, essa estratégia já arrecadou mais de R$700 milhões, dinheiro que está sendo investido em infraestrutura, saúde, educação e saneamento — setores que, convenhamos, são o que realmente importam quando falamos do papel do Estado.

A recente venda da participação na Datora é um exemplo desse movimento. A operação não só dobrou o valor inicialmente investido, mas também exemplificou como o foco nas funções essenciais do Estado, deixando a gestão de determinados ativos para o setor privado, pode resultar em maior eficiência e melhor alocação de recursos.

O que a experiência da Codemge nos ensina é claro: para que o Estado seja verdadeiramente eficiente, é preciso ter a coragem de tomar decisões difíceis. Nem todos os ativos justificam sua permanência sob gestão pública. Focar no que é essencial não é apenas uma estratégia inteligente; é uma medida vital para garantir que o Estado cumpra seu papel com excelência e sustentabilidade.

Porque, no fim das contas, o que realmente importa não é o quanto o Estado acumula, mas o impacto social que transforma e eleva a qualidade de vida da população.

(*) – É Diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (http://www.codemge.com.br/).