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Medir para gerir

em Artigos
quinta-feira, 05 de dezembro de 2019

Fernando Valente Pimentel (*)

No Brasil, cada real gerado pela indústria agrega 2,4 reais para todo o conjunto da economia.

É de grande importância o programa “Redução Contínua do Custo Brasil”, desenvolvido pelo Ministério da Economia em parceria com o Movimento Brasil Competitivo e 12 associações empresariais, com apoio técnico da fundação Center for Public Impact, do Boston Consulting Group, lançado dia 28 de novembro.

É fundamental a identificação de todos os itens que oneram a produção no País, principais causas da perda da competitividade sistêmica de nossa economia nas últimas décadas. A partir desse diagnóstico, cujos parâmetros são os custos análogos médios no âmbito dos 36 países da OCDE, será possível a elaboração de propostas por parte da sociedade civil e de uma agenda para a solução do problema, envolvendo todos os níveis de governo.

O “custo Brasil”, segundo o estudo que embasou o programa, corrói R$ 1,5 trilhão anual das atividades. O valor é equivalente a 22% do PIB nacional e aproximadamente ao dobro do referente à indústria de transformação (cerca de R$ 800 bilhões), atividade que mais sofre com o problema, pois é muito mais exposta à concorrência internacional.

Prova disso é a queda de sua participação no PIB brasileiro, de 11,3% nos dias de hoje, ante 30% nos anos 80. É o índice mais baixo em sete décadas! Outros países que também perderam densidade industrial como proporção do PIB estão promovendo a retomada do setor, que desenvolve tecnologia e inovação, é gerador intensivo de empregos de qualidade, exporta bens com alto valor agregado e, portanto, é decisivo para o desenvolvimento.

No Brasil, cada real gerado pela indústria agrega 2,4 reais para todo o conjunto da economia, conforme cálculos feitos pela CNI. É a atividade com maior poder multiplicador dentre aquelas que compõem o PIB brasileiro. A manufatura, assim como os outros setores, precisa crescer e se fortalecer. Na dinâmica da economia contemporânea, todos os ramos de atividade estão cada vez mais interdependentes.

Por exemplo: a tecnologia, insumos, máquinas, equipamentos, uniformes profissionais e geotexteis, que contribuem para o bom desempenho da agropecuária, provêm da manufatura. Ou seja, precisamos pensar o desenvolvimento como resultado de uma agenda estruturada e coesa de estímulo econômico em geral e que contemple o avanço de todos os segmentos.

Assim, é muito importante a solução dos gargalos que oneram a produção, de modo que possamos crescer pelo menos quatro por cento ao ano e dobrar nossa renda per capita no transcurso de uma geração. A redução do “custo Brasil” é também crucial para que o País colha benefícios da abertura econômica e dos acordos bilaterais e multilaterais em curso e/ou em negociação.

Se não fizermos a lição de casa da competitividade, os tratados de livre comércio poderão representar, em vez de benefícios, perda ainda maior da densidade industrial, pois não conseguiremos concorrer de igual para igual. Portanto, é relevante o diagnóstico correto dos problemas a serem solucionados, feito pelo programa “Redução Contínua do Custo Brasil”.

Afinal, é preciso medir para gerir. Agora, é decisivo colocar em prática um plano eficaz para mitigar os gargalos apontados, para que consigamos promover o crescimento substantivo do PIB e conquistar nível de desenvolvimento compatível com o imenso potencial de nosso país!

(*) – É presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).