Edson Carillo (*)
Não é novidade aos profissionais de logística e comércio exterior que vivenciamos fortes desafios por conta da falta de infraestrutura.
O modelo de gestão de investimentos nessa área ainda é sempre uma incógnita. Há mais de 20 anos, foi contratado um estudo e desenvolvido um plano pelo Ministério dos Transportes, batizado de PNLT – Plano Nacional de Logística e Transportes -, com uma série de ações para mudança na matriz dos modos de transporte.
Talvez aí o primeiro erro pois transformou em fim, aquilo que era para ser o meio. O pior não é isto. É que desdobrado este plano, deveríamos assistir às ações do PAC – Plano de Aceleração do Crescimento, aí no primeiro governo do eleito para o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio, e todos os investimentos, alinhados ao Plano, o que não de fato não aconteceu. Ao invés de serem técnicas, as prioridades, como sempre, são políticas.
As questões não param por aí. Sabe-se que muito provavelmente o governo mudará o plano, se é que ainda existe um, pois os acordos mudarão.Nosso País investe muito aquém do que deveria. Os EUA, em seu período de desenvolvimento (1950 – 1979), investia cerca de 4% de seu PIB em infraestrutura e depois deste período (1980 – 2010) reduziu para 2,3% PIB.
Devido à crise, exatamente, aumentou este investimento para 2,9% PIB, com vistas ao incremento do mercado de trabalho e para dar maior competitividade a seus produtos.
Veja só o detalhe da estratégia: se o governo precisa gastar para movimentar a economia, gasta em alternativas de suporte ao desenvolvimento e competitividade.
Se considerarmos que o PIB dos EUA é 9 vezes maior do que o brasileiro e que no Brasil investimos cerca de 1% do PIB em infraestrutura, é fácil entender porque a logística no Brasil custa mais de 35% do que a dos EUA. Ao lado das questões de infraestrutura, temos ainda os aspectos burocráticos. A complexidade e falta de padronização de processos torna ainda mais intenso o uso dos recursos.
Apesar disso, não retiro do empresariado parte desta culpa. Falta envolvimento para levarmos a sério uma pauta com reivindicações, necessidades, projetos e condições para melhoria da competitividade de nosso País. Acreditarmos que o mercado interno é grande o bastante é pensar pequeno, pois no fundo não é. Já vivemos uma forte concorrência internacional e a tendência é aumentar ainda mais! Não será com protecionismos que resolveremos esta questão. Os commodities não mais conseguirão regular nossa balança comercial.
Vale destacar que a economia mundial cresceu como um todo no último ano e o Brasil recuou cerca de 23% em sua participação como exportador, caindo de 22o para 24o, segundo pesquisa do Banco Mundial. O desempenho logístico do Brasil recuou 20 posições: de 45° passamos a 65° em um ranking de 160 países. E, só para lembrar, somos a 7ª economia. Ou seja, claramente algo está errado! Estima-se que temos um déficit de quase meio trilhão de Reais em investimentos em infraestrutura e apenas anúncios não resolverão esta situação.
Acreditar que o governo brasileiro cumpriu seu dever como Estado e estamos colhendo os frutos da boa gestão pública dos últimos anos é uma total falta de conhecimento e cidadania pois está na hora de nos voltarmos contra o sistema e cobrar uma Política de Estado para infraestrutura e não um Estado de Política e interesses de poucos no qual vivemos.
(*) – Vice-presidente da ABRALOG e professor de MBA na FGV, é diretor executivo da Connexxion Consulting (www.connexxionconsulting.com).