Alexandre Pierro (*)
Pode parecer motivo de orgulho, mas o avanço do Brasil no ranking do Índice Global de Inovação (IGI) não é algo tão positivo como muitos acreditam. Mesmo tendo ganho cinco posições na lista em relação a 2022 e liderando os países da América Latina, temos muito potencial inexplorado que poderia nos colocar como verdadeiras referências no assunto. Algo que, se não for criteriosamente analisado, impedirá que possamos alavancar nosso mercado em prol da adoção de boas práticas inovadoras internacionais.
Divulgado na última semana pelo WIPO (World Intellectual Property Organization), o Brasil passou a ocupar a 49ª posição entre 132 países participantes no ranking, além de se tornar o 1º colocado da América Latina e Caribe. À frente, podemos notar nações como Suíça, Suécia, Estados Unidos, Reino Unido, Singapura, Finlândia, Holanda, Alemanha, Dinamarca e Coreia do Sul – muitos dos quais, poderíamos ultrapassar em diversos dos pontos levando em consideração as categorias avaliadas.
Sete indicadores são verificados ao estabelecer essa colocação: instituições do país; capital humano e de pesquisa; infraestrutura; sofisticação do mercado; dos negócios; conhecimento de tecnologias e criatividade, em âmbito geral. Apesar da média destas notas ser a responsável por determinar a classificação no índice, é importante desdobrarmos um olhar mais cauteloso sobre cada uma delas, uma vez que refletem uma realidade preocupante que, caso compreendida e revertida, poderá trazer o resultado que realmente temos capacidade de conquistar.
De todos, o ambiente regulatório empresarial foi o mais severo. Isso é, considerando a facilidade em se fazer negócios frente à legislação nacional, políticas e cultura, foi considerado demasiadamente complexo, nos levando à 99ª posição. Um ponto extremamente negativo e crucial de ser aperfeiçoado para que tenhamos a base necessária para fomentar a inovação em nossos empreendimentos.
O mesmo vale para a questão de conhecimento e difusão da inovação no mercado (termo utilizado para a adoção de uma nova inovação em uma sociedade), no qual ocupamos o 67º lugar. Nosso mercado é vasto e em expansão, e temos muitas mentes brilhantes capazes de destravar esse ambiente inovador, mas, ainda falhamos fortemente nesse aspecto. Principalmente, se levarmos em consideração que países que estão à nossa frente, como Portugal, Irlanda e Singapura, não dispõem do mesmo preparo que o nosso.
Em regiões inspiradoras neste assunto, como o Vale do Silício, muito desse fomento vem de iniciativas que integram o ambiente corporativo às instituições de ensino, o que permite a troca de conhecimentos, insights e, com isso, um local propício para o desenvolvimento de iniciativas inovadoras. Por aqui, também temos universidades excelentes e renomadas, mas além de não serem inteiramente acessíveis à população, falta essa integração entre as partes e um trabalho unido em prol desses resultados – o que nos levou ao 78º lugar nesse item.
Mesmo que tenhamos avançado cinco posições, ainda estamos muito longe de sermos verdadeiramente parabenizados pelo nosso potencial inovador. Afinal, em alguns dos aspectos mais importantes para estruturar e difundir esse mindset, os resultados permanecem bem abaixo do ideal para que essa mudança se inicie – em um cenário realmente grave, considerando que temos dispositivos extremamente eficazes para alterar essa realidade.
A ISO de inovação, como exemplo, é uma metodologia de gestão da inovação reconhecida internacionalmente, e que vem sendo cada vez mais adotada pelas empresas brasileiras. Já temos grandes cases de sucesso no território, demonstrando os benefícios que ela traz para o crescimento e destaque inovador frente aos concorrentes, e sua importância em ser adotada para revolucionar esse cenário.
Por mais que ela ainda não seja um fator analisado nos países participantes do ranking, seu amplo crescimento nos últimos anos demonstra uma forte probabilidade de que se torne um parâmetro mensurado em breve – já que outras normas como a ISO 9001 (relacionada ao desenvolvimento de sistemas de gestão) e a ISO 14001 (responsável por estabelecer diretrizes para sistemas de gestão ambiental) já são citadas nos critérios verificados para a classificação.
O ranking divulgado evidencia o quanto os órgãos responsáveis estão de olho nessa aderência às boas práticas internacionais, e o quão longe ainda estamos de atingir essa meta. Temos um potencial enorme para explorar positivamente e alcançarmos posições cada vez melhores nessa área, mas que precisa iniciar imediatamente. A jornada é longa, mas cada pequeno passo será importante para que tenhamos uma verdadeira mentalidade inovadora em nosso país.
(*) Mestrando em gestão e engenharia da inovação, bacharel em engenharia mecânica, física nuclear e sócio fundador da PALAS, consultoria pioneira na ISO de inovação na América Latina.