Alberto Machado Neto (*)
Há bastante tempo venho utilizando a prática de home office quando tenho que produzir algum material que independa de outras pessoas.
Escrever artigos, preparar palestras, estudar algum material que esteja em consulta pública, fazer pesquisas, por exemplo, são atividades que se mostram mais eficazes quando estamos em um local com poucas interrupções, sem contar com o ganho de tempo gasto nos deslocamentos. Do mesmo modo, algumas videoconferências independem do local, desde que existam equipamentos adequados.
Entretanto, a cada dia que passa, percebo que home office é muito mais que isso, pois, se por um lado exige disciplina, ambiente adequado e, sobretudo, o entendimento dos familiares, que na maioria dos casos confundem o “estar trabalhando em casa” com o “estar de bobeira”, por outro, para muitas atividades, pode ser muito eficiente e eficaz como parte do trabalho convencional.
Nesse momento, em decorrência da pandemia, estamos sendo obrigados a instituir o home office forçado que, para alguns pelas condições de risco, virou home life, transformando o modus operandi em modus vivendi e, com isso, mudando completamente os conceitos envolvidos.
Do mesmo modo com o que ocorreu com os aplicativos de locação de imóveis ou de serviço de transporte individual, onde as empresas de táxi não possuem um único veículo e as empresas de locação de imóveis não possuem um único imóvel, começamos a entender que home office é uma nova maneira de trabalhar e não simplesmente a execução do trabalho, da mesma forma que executado nas empresas, só que em outro lugar.
Vivi uma experiência muito rica no início dos anos oitenta. Naquela ocasião, com maior utilização dos computadores nos processos administrativos, num primeiro momento, eram levantados os processos e introduzidos no computador, fazendo com que o computador seguisse todos os passos que anteriormente eram executados manualmente. Conclusão: o processo manual, por ser mais lento permitia a auto correção dos possíveis erros ou não conformidades.
Com a aceleração desses processos, os erros aconteciam e só eram percebidos quando concluído todo o processo, levando a situações na maioria das vezes irreversíveis. A lição que aprendi e trago comigo até hoje foi: se muda o ambiente, mude o processo.
É isso que estou descobrindo agora: muitas viagens são desnecessárias, as reuniões com muitas pessoas por vídeo são bem mais objetivas, o modo de conduzir os assuntos muda, os contatos quando necessários por telefone ou outro meio são consolidados e bem mais objetivos e, com o WhatsApp sendo o principal meio de comunicação, a prioridade tem que ser para os grupos de trabalho e contatos individuais, deixando os grupos puramente sociais para os momentos de laser.
Existe, porém, outro risco que está cada vez mais evidente: não ter a disciplina necessária também na hora de parar para repor as energias e estar bem preparado para a jornada do dia seguinte, estabelecendo horários e metas e as cumprindo com o devido rigor. Depois do COVID19 nossa vida não será mais a mesma.
O home life um dia vai passar, mas o home office veio para ficar porque agrega: valor às atividades profissionais, qualidade de vida, otimização do tempo e redução de deslocamentos estressantes e nocivos ao meio ambiente.
(*) – É Diretor de Petróleo, Gás Natural, Bioenergia e Petroquímica da ABIMAQ.